domingo, 30 de junho de 2019

A MENINA BEATRIZ COSTA E O AMADORENSE ANTÓNIO MIGUEL COSTA DA SILVA




A artista viveu durante décadas no Hotel Tivoli em Lisboa. Conforto e carinho não lhe faltaram. O senhor António Miguel Costa da Silva, nascido em Lisboa, mas residente na Amadora há longa data, trabalhava na manutenção do hotel, nomeadamente como electricista e teve a oportunidade de com ela privar durante dezasseis anos. Miguel Silva recorda-se com saudade da menina Beatriz.

A menina Beatriz Costa, como gostava de ser chamada, contava com as suas atenções profissionais, assim como das de sua esposa, D. Maria do Céu, uma das duas floristas do hotel, durante 40 anos, nesse mesmo local de trabalho.

Quando a menina Beatriz necessitava dos seus serviços, chamava-o. O sr. Miguel Silva recorda-se de uma ocasião, pela duas da manhã, a artista aflita ter recorrido aos seus serviços, em virtude de numa mala ter um casaco que não podia estar mais de duas horas, sem estar no frio. Era preciso abrir a mala, cuja fechadura viera danificada de Espanha. Com toda a boa vontade, Miguel Costa ia resolvendo as situações.

A menina Beatriz não se esqueceu de quem a ajudava e considerava. No seu livro  ”Eles e  Elas…”na página 104 grafou, a propósito das ajudas que recebia, na reparação do que ia necessitando ”… Miguel e Ventura (chefe do sr. Miguel) “ e fica tudo na mesma, como foi inaugurado...” 

Jorge C. Chora 

30/6/19




quinta-feira, 27 de junho de 2019

NUNCA OUVI NA AMADORA RESPOSTAS ASSIM


                       

Há respostas que todos devemos evitar dar a quem de boa fé, nos pergunta alguma coisa, nomeadamente uma simples informação, se as pessoas desconhecem a cidade ou a localidade onde se encontram.

Elas afastam e dão uma péssima impressão, não só da pessoa que responde ou finge responder, como também das pessoas da terra onde estamos pois, embora não devamos generalizar, é quase inevitável fazê-lo.

Vem isto a propósito de algumas experiências desagradáveis que me aconteceram, há dias, numa viagem ao Alentejo.

Em Évora, perguntei a um habitante local, que direcção deveria tomar para ir ao recinto da feira de S. João. Estávamos no dia 20 Junho.

Num tom de voz bem alto e muito aborrecido, respondeu-me que ela se realizava só a 24 de Junho. Disse-lhe que a vira estar a ser montada, ao passar de carro, mas a pé, não sabia qual o caminho a tomar. Afastou-se, não sem que antes tornasse a dizer que era só a 24. Acabei por descobrir que bastava descer uma rua à esquerda do local onde me encontrava. A feira abriu a 21.

Em Arraiolos, perguntei qual o caminho a seguir para ir a duas localidades nos arredores:

-Sempre em frente!

Foi com surpresa que descobri que era ao contrário, ao perguntar a um transeunte bem mais simpático.

Respostas como estas desqualificam quem as dá e o pior, podem dar azo a que se confunda a árvore com a floresta, em terras que afinal estão recheadas de gente boa.

Na nossa cidade da Amadora nunca vi ninguém dar este tipo de respostas ou a mostrar enfado a quem desconhece a cidade e procura algo. Espero sinceramente nunca ver.

Jorge C. Chora

     27/6/19

sábado, 22 de junho de 2019

VALDEVINO



Recebeu bênçãos
e sacramentos,
queriam-no cristão.
Quem o abençoou
nunca sonhou
que se tornasse,
fadista e cortesão,
num senhor
com uma corte pagã,
em suma,
num valdevino.
Assim o classificam
as bruxas e adivinhos
que não tiveram a mínima razão,
porque se tornou fadista e bom cristão.

Jorge C. Chora
22/6/19

terça-feira, 18 de junho de 2019

MORO NO TEU PEITO



Moras no meu peito
tal como eu no teu,
somos cativos um do outro
como se tivéssemos o mesmo coração,
 embora saibamos serem dois
 a bater ao ritmo de um só.

Jorge C. Chora 

  18/6/19

sábado, 15 de junho de 2019


   ALGUNS DESENRASCANÇOS DA BUROCRACIA ECLESIÁSTICA
                                          O EPISÓDIO DA GALINHA  

Profissionais das mais diversas profissões, adoptam estratégias variadas para denunciar algo que se passou e não querem deixar em brancas nuvens, principalmente tratando-se de dívidas.
Chegou-me às mãos um registo paroquial, deveras curioso, cedido por uma historiadora que se dedica às investigações paroquiais.
Este registo de batismo, de Vila Mendo, freguesia de Vila Fernando da Guarda, datado do século XVIII, após registar, de acordo com a época e as fórmulas eclesiásticas em vigor, tudo o que era de lei, faz questão de dar uma informação de que este acto não fora pago. Na margem esquerda do registo paroquial, acrescenta-lhe o padre cura a informação: deve uma galinha.
Ora tomem: se o serviço tem preço, é preciso que seja honrado, independentemente do grau de pobreza de quem o solicitou. Aí está o libelo eterno de quem faltou aos seus deveres, sem apelo nem agravo, aos olhos dos vindouros: DEVE UMA GALINHA. 

                                                    AFINAL RESSUSCITOU

Noutro registo, também do século XVIII, em Mesquitela, Mangualde, foi feito um registo de batismo .
Cerca de dois anos mais tarde, na margem esquerda do documento, acrescenta-se a data do seu falecimento e logo a seguir, a menção: Ainda está vivo, ressuscitou.
Actualização constante, poupança de registos, emendas imediatas, correcção de erros?
Conclui-se ser mais um desenrascanço eclesiástico .Tudo está bem quando acaba bem: afinal  tratou-se de uma ressurreição!

Jorge C. Chora
15/6/19



quarta-feira, 12 de junho de 2019

BEIJOS DE UMA SÓ COR




Os beijos de
uma só cor,
azuis ou amarelos,
não têm sabor,
porque os recheados de amor,
são como o arco-íris:
repletos de cores,
com cheiro a manjerico,
e dados com as bênçãos
de Stº. António.

Jorge C. Chora 

12/6/19

sexta-feira, 7 de junho de 2019

BOM DIA


    
Acordar e ver-te,
ser o primeiro
a desejar-te um bom dia,
sem falhar um único dia,
é saber-me vivo e bem acompanhado,
ter com quem partilhar
e bochechas beijar.
É muito bom acordar
e ser o primeiro a
desejar-te bom dia,
logo ao nascer de um novo e grande dia,
sem falhar um único dia.

Jorge C. Chora
7/6/19


quarta-feira, 5 de junho de 2019

AMÊNDOA DOCE



A tua cara é uma 
amêndoa açucarada,
redonda e doce,
aos amigos ofertada.
Aos antipáticos,
nem sempre lhes
mostras o merecido fel,
o caroço amargo,
continuas a apresentar-lhes
a tua face de amêndoa
doce e redonda,
incapaz de destilar fel,
amiga de amor e mel.

JORGE C. CHORA
5/6/19



sábado, 1 de junho de 2019

O AZUCRINADOR



Nasceu de olhos abertos. Quando a fome apertava, berrava em vez de chorar. À mãe secou-se-lhe o leite, mas isso não o impediu de ter a alimentação de modo atempado.

Aprendeu ou já vinha programado, a apontar o biberão e a emitir sinais sonoros, de tal forma audíveis e irritantes, que primeiro tinha de ser atendido ou o berçário entrava em polvorosa.

Cresceu e alcançou a idade adulta num ápice.

Escolheu a música como meio de sobreviver mas recusou-se a aprendê-la. Não esteve para isso.
Ganha a vida num ponto estratégico da cidade. Toca com tal desafinação que ninguém, em juízo perfeito, deseja escutá-lo. Não há quem recuse dar-lhe uma moeda. Se o seu valor for baixo, ele desafina com toda a gana.

Ao fim do dia tem o saco repleto de moedas. Quem tem o desplante de por ele passar, sem lhe doar o que ele acha merecer para não os azucrinar, é certo e sabido que tem o dia estragado: rebenta-lhes com os ouvidos.

Os mais jovens, mais criativos, acharam uma solução: passam por ele com os auscultadores colocados, não sem que antes lhe desejem um sonoro bom dia.

JORGE C. CHORA
1/6/19