quinta-feira, 28 de setembro de 2017

DESEJO


Se tu queres,
o que eu quero,
fica sabendo, seres tu   
a quem desejo beijar.
Não há nada
que possamos fazer
de mais acertado,
do que selarmos
com um beijo o nosso desejo,
quando acabar de contar até três:
um. dois…hum que bom
é o nosso beijo.


Jorge C. Chora

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

O MICRO CÃO



O cão era tão, mas tão pequeno, que apodá-lo de micro cão seria mais do que adequado. A sua dona, sempre receosa de que o pisassem, não o deixava andar no chão:  levava-o sempre ao colo.

Os medos que a dona padecia só de imaginar o que poderia suceder ao bicho, produziam-lhe poderosas enxaquecas. Sofria como poucas sofreriam e mais ainda do que qualquer outra, porque era por antecipação que acusava os males de que o bichano podia vir eventualmente a ter ou a acontecer-lhe.

Compadecida do fraco ladrar da amostra, tomou a resolução de o ajudar nessa urgente tarefa.
Ei-la que no meio da multidão, ladrava e torna a ladrar, demonstrando ao pequenote a urgência e a arte de ladrar, poupando-o ao esforço e à chacota dos seus semelhantes.

Neste exacto momento, rodeada por uma multidão, rosna com quanta força tem, pretendendo ensinar-lhe o modo de se fazer respeitar no mundo canino. E o seu empenho é tal que em seu redor se abriu uma clareira e passado algum tempo, surgiram três possantes homens trajando batas brancas. Enfiam-na numa camisa de forças, e apertam-na cada vez mais, à medida que o seu rosnar se intensificava.

Meus amigos, nunca tentem ensinar os vossos animais de estimação de quatro patas a rosnar!

Jorge C. Chora


domingo, 17 de setembro de 2017

DANÇAS FOLCLÓRICAS



Ao som de concertinas
e do toque- toque das socas
das bailarinas,
ondulam os corpos,
serpenteiam  as saias
que se estreitam nas cinturas,
a compasso de castanholas
e de saltos catrapuns,
intercalados pelo toque -toque
das socas das bailarinas,
 que ao som das concertinas,
explodem em cores e sons
de viras, chulas e canas-verdes.


Jorge C. Chora

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

VIR,O CAVALO



Ao vê-lo luzidio, nervoso e belo, baptizaram-no de “Vir”. Foram cinco os homens que o viram. Os cinco eram importantes mas um superava o estatuto dos outros, tal o estatuto sócio -económico que detinha.

Todos se sentiram com direito a tomar posse do cavalo negro luzidio. Nenhum decidiu abdicar do magnífico alazão.

Dois deles propuseram o voto, como meio de decisão. O terceiro e o quarto recusaram.

-Se não nos entendemos, eu decido! - declarou o mais poderoso- tenho o voto decisivo, o do desempate, já que ninguém se entende.

Acataram a decisão. Não tinham força para o contestar e aceitavam a alegada superioridade como argumento válido e imbatível.

Decidida a contenda, o poderoso vencedor, aproximou-se do belo cavalo. Levou um coice que o colocou às portas da morte.

Um a um, todos tentaram montá-lo. A todos, sem excepção, aconteceu o mesmo.

Vir, o cavalo, entendia a linguagem humana. Fora há muito aconselhado pelos seus antepassados a fingir que não a entendia. Hoje em dia “ Vir”, o cavalo, toma as decisões pelos humanos quando estes não entendem ou não querem entender o que se passa à sua volta.


Jorge C. Chora

sábado, 2 de setembro de 2017

O JARDIM


Centro de prazeres
sem fim,
pão de Alfeizerão,
alimento de famintos,
loucos e amorosos,
loca de adoráveis
fios d’ouro,
paraíso secreto
e sem igual,
chamam-lhe imensos nomes,
mas a verdade é que és,
o canteiro de prazeres
sem fim,
fonte de sucos divinos,
e de eternas subidas ao céu.


Jorge C. Chora