Se tu és bom
cristão,
dentro e
fora da refeição,
ao vinho não se diz não,
os padres dão-lhe a bênção
e não lhe
acham senão!
Jorge C. Chora
31/1/ 2024
Se tu és bom
cristão,
dentro e
fora da refeição,
ao vinho não se diz não,
os padres dão-lhe a bênção
e não lhe
acham senão!
Jorge C. Chora
31/1/ 2024
Conheces o meu sentir,
mas finges
não perceber.
Do alto da
tua torre,
não dás
sinal de descer
ou de me
deixares subir.
Se
persistires em ignorar-me,
não te
pedirei que desças,
nem te
implorarei para
lançares as
tuas tranças,
tal como
Rapunzel,
até porque,
não estás prisioneira,
e nada te
impede de me deixares subir.
Simplesmente
darei o meu amor,
quiçá, a uma
menos bela, mas mais
sensível e
menos fingida do que tu.
Jorge C. Chora
30/1/2024
Triste é o
vinho
que não
alegra
quem o bebe:
é um
impostor,
com mau
cheiro
e péssimo
sabor,
quiçá,
um imposto
sem retorno,
uma serenata
sem música
e sem
cantor.
Jorge C.
Chora
ESTRANHAS
SAUDADES
Nunca tive
saudades assim,
por não
saber se ficas, se partes.
Ainda não
chegaste e já as tenho,
mesmo ao
acabar de te ver,
sem saber se
ficas, se partes.
Bailam em
mim estranhas saudades,
e só agora
percebi, ser o medo
que partas e
deixe de te ver,
deixando-me
a saúde a bailar,
por nunca
saber se ficas, se partes.
Jorge C. Chora
27/1/2024
Já lhe chamaram o dr. Sintra, tantos foram aqueles que morreram na linha, quando as passadeiras dos peões cruzavam os carris.
Uns por mera
distração, outros por suicídio, mas houve também quem ficasse sem braços e sem
pernas, enquanto trepavam para cima dos comboios e caíam.
Na Amadora,
às horas de ponta, os passageiros que apanhavam o comboio para Lisboa e
vice-versa, iam pendurados em cachos, no exterior do comboio, agarrados aos
apoios das entradas, segurando malas, sacos e saquinhos, rezando a todos os
santinhos para chegarem sãos e salvos ao seu destino.
As dores de
barriga eram muitas e em caso de aflição, ao chegarem à estação, podiam
socorrer-se das casas de banho existentes à superfície, quando a estação ainda
não era subterrânea ou mesmo depois, quando deixou de ser, pois também havia
casas de banho a funcionar.
Atualmente,
quando há greves e poucos comboios, repetem-se os cachos de passageiros
pendurados às entradas e as dores de barriga, mas só há duas soluções ao
chegarem à Amadora: ou fazem nas calças ou as arreiam e fazem no chão, porque
as casas de banho estão fechadas!
O mais certo
é saírem borrados!
Jorge C.
Chora
24/1/2024
Os vestidos
de ar e vento,
são os
únicos que lhe assentam,
se moldam ao
corpo a contento,
todos os
outros nada acrescentam.
Transportada
numa carruagem real,
embora
vestida de ar e vento,
ninguém dirá
que a rainha vai nua
e todos
aplaudem o vestido que ela traz
e tão bem
realça a sua beleza.
Jorge C. Chora
21/172024
Está de
partida a bela Belinda,
já de
saudades perdida,
ainda sem
estar embarcada,
e sem sinal próximo
da partida.
Beija-a a mamã,
o papá e a titi,
lambuzam-na
os amigos e a Mimi,
e,
entretanto, ouve-se um aviso:
-O voo para
Nova Iorque foi cancelado.
Repetem-se
os beijos, adiam-se as saudades,
guardam-se
as lágrimas para o dia da nova partida.
Regressam a
casa, a Belinda, a mamã., o papá e a titi,
até que a
companhia se digne avisar da nova partida.
Jorge C.
Chora
20/1/2024
Quando o
viam,
nunca
sabiam,
se estava de
chegada
ou de partida.
Trabalhava
onde
mais
trabalho existia,
fosse em que
país fosse,
comendo o
que havia,
das batatas
às lentilhas.
Com a idade
estabilizou,
ganhou
dinheiro e cidadania
no país onde
se fixou,
e até votou.
Um dia
regressou a Portugal,
rico e
tratado como doutor,
sem nunca o
ter sido,
pois nem
sequer o rabo,
em nenhuma
universidade sentou.
A primeira
coisa que disse,
esquecido de
ter sido emigrante,
e ter comido
o pão que
o diabo
amassou, foi:
- Fora com
os imigrantes!
Jorge C. Chora
16/1/2024
Nem sempre se obtém
o que se
quer ou se deseja.
Embora eu te
queira e deseje,
não sei se
me desejas,
ou não queres
desejar-me
e desejas
que eu te queira.
Seja como
for, quero-te
e desejo-te!
Jorge C. Chora
14/1/2024
São teus
seios,
criação
divina,
dignos de
louvor.
Semelhantes
às delicadas,
aromáticas e
belas laranjas
dos pomares
algarvios,
douradas e
não crestadas,
sabendo a
laranja-mel,
em tudo são
dignas
de louvores
diários e dominicais.
Tal como São
Francisco,
num hino à
criação
“Irmão Sol Irmã
Lua”
louvou o
Senhor,
eu três
vezes repito:
Louvado
sejas Senhor;
Louvado
sejas Senhor;
Louvado
sejas Senhor.
Jorge C.
Chora
!3/1/ 2023
SÃO SEMPRE
ASSIM?
Não reclamam,
enquanto
aproveitam,
quando lhes
tocam,
ui, o que se
queixam!
Mais não
queremos,
senão o que
é nosso,
o vosso só
queremos.
se for maior
do que o nosso!
É mau
cobiçar,
quando o
vício é vosso,
se ele é nosso,
passa a ser
desejar.
Mexericos,
são os dos vizinhos,
os nossos
são verdadeiros,
embora iguaizinhos:
o mesmo
querem ambos,
parecerem
melhores
do que na
realidade eles são.
Quem tudo crítica,
mas nada faz,
tudo destrói,
nada constrói.
Jorge C.
Chora
9/1/2024
UM CHAMADO
Longe ou
perto podes estar,
mas se me
chamares,
esteja onde
estiver,
responderei
ao teu chamado.
Trar-te-ei
mesmo ao colo,
aninhada ao
meu peito,
sentindo os
teus seios,
mirando-os
com devoção,
beijá-los-ei
se quiseres,
até me sussurrares
ao ouvido:
- Querido,
quero mais!
Jorge C. Chora
6 /1/2024
Jana vivia
triste e amargurada. Um dia confiou ao amigo vento a razão do seu tormento:
- Não tenho namorado…
E o vento,
surpreendido, respondeu-lhe:
- Mas tu
tens tantos amigos e amigas, para que queres um namorado se só tens quinze
anos?
-Não quero
só amigas e amigos, quero, isso sim, um namorado! Tu não percebes nada - e as
lágrimas vieram-lhe aos olhos.
E o vento
condoeu-se de Joana e acabou por espalhar por todo o Mundo o desejo da amiga.
Os candidatos não tardaram a aparecer, de todo
o lado, aos centos, das Américas à Mongólia.
Nenhum
mostrava um real desejo de a conhecer: uns julgavam-na rica, outros famosa e
outros, uma rainha de beleza que lhes dava um estatuto.
Desiludida e
ainda mais triste do que estava, confessou ao vento a sua desilusão.
Este sorriu
e disse-lhe:
-Já
percebeste que um namorado deve ser alguém, que te conheça, goste de ti como és
e tu dele do mesmo modo?
-Sim…
-E não
conheces ninguém assim?
-Sim, mas
não sei se gosta de mim! - e corou por diversas vezes e começou a chorar
convulsivamente.
- E já lhe
perguntaste ou ainda não? Não me digas que não, que armo já um pé de vento! -e
a voz do vento elevou-se de tal modo, que a vizinha de cima, apareceu
espavorida à porta da Joana.
Manuela, dois
anos mais velha do que Joana, ao vê-la em lágrimas, abraçou-a, beijou-lhe os
olhos, pegou-a ao colo, também chorou e pediu-lhe, com uma grande ternura;
- Não chores
minha querida, eu estou aqui, nunca te disse, talvez por timidez, mas digo-te
agora, que gosto de ti de uma maneira especial.
Joana
anichou-se, passou-lhe os braços pelo pescoço e beijou-a com todo o amor que
lhe tinha e nunca o declarara.
E o vento,
embora cabeça-de -vento, soprando-lhe suavemente o cabelo, sussurrou-lhe:
- Minha
querida Joana, às vezes não é preciso procurar longe, quando temos bem perto quem
amamos e nos ama!
Cinquenta
anos depois, Joana e Manuela continuam a viver juntas e passam a vida quase
sempre de mãos dadas, quer em casa quer quando saem.
Jorge C.
Chora
6/1/2024
João morava numa
cabana à beira-mar. Anexa à mesma, um pequeno barracão onde guardava os
apetrechos de pesca e um bote.
Um dia saiu
de madrugada no seu pequeno barco para pescar. Mal lançou a rede sentiu que
algo grande tinha apanhado. Com esforço puxou-a para o bote.
No seu
interior vinha uma linda mulher, ainda jovem, com um rabo de peixe. Era uma
sereia. Ela sorriu-lhe e disse-lhe:
- Tenho-te
visto todos os dias, sei que te chamas João porque os teus amigos pescadores
assim te chamam. Quero conhecer-te melhor, por isso entrei na tua rede. Também
sei que só pescas o que deves e respeitas o mar. Já te vi lançar à água
tartarugas, golfinhos e peixes pequenos.
- E tu minha
linda menina como te chamas e que idade tens?
- Tenho
dezoito, mais ou menos a tua idade, e chamo-me Sofia. Vivo no mar, ao pé da
rocha que fica ao pé da tua casa. Já te quis chamar, mas vejo-te tão cansado ao
regressares da pesca que tenho evitado. Nos dias de calor, quando dormes na
praia e tens dificuldade em adormecer costumo…
João
interrompeu-a:
- Não me
dias que és tu que cantas para eu adormecer…
- Sim, sou
eu. Já me quis deitar ao teu lado, mas só me dou na água embora possa
permanecer em terra por pouco tempo.
João
olhava-a admirado e não se coibiu de manifestar o seu agrado:
- És tão
bonita e cantas tão bem, Sofia. Tenho pena de só agora te conhecer…
A partir
daquele dia, Sofia ia ter com ele quando João pescava. Ele puxava-a para o
barco e conversavam. De vez em quando ela mergulhava e tornava a ir ter com ele
ao bote.
João
construiu-lhe uma pequena piscina, em pedra e chão de areia, ao pé da rocha e
um abrigo ao lado, onde passou a dormir. De dia ela estava com ele no bote e de
noite, dormia de mão dada, ele na rocha e ela na água.
Os anos
passaram-se. João tem a cabeça toda branca e o rabinho de Sofia já pouca escama
tem, mas há algo que nunca mudou: continuam a dormir de mão dada, ela na água e
ele em terra e Sofia a adormecê-lo, a cantar, como sempre fez.
Jorge C.
Chora
2/1/2024