quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

O VINHO II

 

Se tu és bom cristão,

dentro e fora da refeição,

ao vinho não se diz não,

os padres dão-lhe a bênção

e não lhe acham senão!

      Jorge C. Chora

      31/1/ 2024

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

QUEM ESPERA DESESPERA

 

Conheces o meu sentir,

mas finges não perceber.

Do alto da tua torre,

não dás sinal de descer

ou de me deixares subir.

Se persistires em ignorar-me,

não te pedirei que desças,

nem te implorarei para

lançares as tuas tranças,

tal como Rapunzel,

até porque, não estás prisioneira,

e nada te impede de me deixares subir.

Simplesmente darei o meu amor,

quiçá, a uma menos bela, mas mais

sensível e menos fingida do que tu.

 

         Jorge C. Chora

           30/1/2024

domingo, 28 de janeiro de 2024

O VINHO

 

Triste é o vinho

que não alegra

quem o bebe:

é um impostor,

com mau cheiro

e péssimo sabor,

quiçá,

um imposto sem retorno,

uma serenata sem música

e sem cantor.

 

Jorge C. Chora

sábado, 27 de janeiro de 2024

ESTRANHAS SAUDADES

 

ESTRANHAS SAUDADES

Nunca tive saudades assim,

por não saber se ficas, se partes.

Ainda não chegaste e já as tenho,

mesmo ao acabar de te ver,

sem saber se ficas, se partes.

Bailam em mim estranhas saudades,

e só agora percebi, ser o medo

que partas e deixe de te ver,

deixando-me a saúde a bailar,

por nunca saber se ficas, se partes.

        Jorge C. Chora

          27/1/2024

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

É OU NÃO É

 

É OU NÃO É?

 

Quem vê e não crê,

ou é cego,

ou não quer ver!

 

Jorge C. Chora

25/1/2024

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

OS COMBOIOS DA LINHA DE SINTRA E A ESTAÇÃO DA AMADORA

 

Já lhe chamaram o dr. Sintra, tantos foram aqueles que morreram na linha, quando as passadeiras dos peões cruzavam os carris.

Uns por mera distração, outros por suicídio, mas houve também quem ficasse sem braços e sem pernas, enquanto trepavam para cima dos comboios e caíam.

Na Amadora, às horas de ponta, os passageiros que apanhavam o comboio para Lisboa e vice-versa, iam pendurados em cachos, no exterior do comboio, agarrados aos apoios das entradas, segurando malas, sacos e saquinhos, rezando a todos os santinhos para chegarem sãos e salvos ao seu destino.

As dores de barriga eram muitas e em caso de aflição, ao chegarem à estação, podiam socorrer-se das casas de banho existentes à superfície, quando a estação ainda não era subterrânea ou mesmo depois, quando deixou de ser, pois também havia casas de banho a funcionar.

Atualmente, quando há greves e poucos comboios, repetem-se os cachos de passageiros pendurados às entradas e as dores de barriga, mas só há duas soluções ao chegarem à Amadora: ou fazem nas calças ou as arreiam e fazem no chão, porque as casas de banho estão fechadas!

O mais certo é saírem borrados!

Jorge C. Chora

24/1/2024

 

 

domingo, 21 de janeiro de 2024

LEONOR

 


Os vestidos de ar e vento,

são os únicos que lhe assentam,

se moldam ao corpo a contento,

todos os outros nada acrescentam.

Transportada numa carruagem real,

embora vestida de ar e vento,

ninguém dirá que a rainha vai nua

e todos aplaudem o vestido que ela traz

e tão bem realça a sua beleza.

 

      Jorge C. Chora

         21/172024

sábado, 20 de janeiro de 2024

AEROPORTO

 

 

Está de partida a bela Belinda,

já de saudades perdida,

ainda sem estar embarcada,

e sem sinal próximo da partida.

Beija-a a mamã, o papá e a titi,

lambuzam-na os amigos e a Mimi,

e, entretanto, ouve-se um aviso:

-O voo para Nova Iorque foi cancelado.

Repetem-se os beijos, adiam-se as saudades,

guardam-se as lágrimas para o dia da nova partida.

Regressam a casa, a Belinda, a mamã., o papá e a titi,

até que a companhia se digne avisar da nova partida.

Jorge C. Chora

20/1/2024

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

CERTOS EMIGRANTES,

 

Quando o viam,

nunca sabiam,

se estava de chegada

 ou de partida.

Trabalhava onde

mais trabalho existia,

fosse em que país fosse,

comendo o que havia,

das batatas às lentilhas.

Com a idade estabilizou,

ganhou dinheiro e cidadania

no país onde se fixou,

e até votou.

Um dia regressou a Portugal,

rico e tratado como doutor,

sem nunca o ter sido,

pois nem sequer o rabo,

em nenhuma universidade sentou.

A primeira coisa que disse,

esquecido de ter sido emigrante,

e ter comido o pão que

o diabo amassou, foi:

- Fora com os imigrantes!

      Jorge C. Chora

       16/1/2024

domingo, 14 de janeiro de 2024

QUERER E DESEJAR

Nem sempre se obtém

o que se quer ou se deseja.

Embora eu te queira e deseje,

não sei se me desejas,

ou não queres desejar-me

e desejas que eu te queira.

Seja como for, quero-te

 e desejo-te!

      Jorge C. Chora 

        14/1/2024

sábado, 13 de janeiro de 2024

OS TEUS SEIOS

 


São teus seios,

criação divina,

dignos de louvor.

Semelhantes às delicadas,

aromáticas e belas laranjas

dos pomares algarvios,

douradas e não crestadas,

sabendo a laranja-mel,

em tudo são dignas

de louvores diários e dominicais.

Tal como São Francisco,

num hino à criação

“Irmão Sol Irmã Lua”

louvou o Senhor,

eu três vezes repito:

Louvado sejas Senhor;

Louvado sejas Senhor;

Louvado sejas Senhor.

Jorge C. Chora

  !3/1/ 2023

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

SÃO SEMPRE ASSIM?

 

SÃO SEMPRE ASSIM?

 

Não reclamam,

enquanto aproveitam,

quando lhes tocam,

ui, o que se queixam!

 

Mais não queremos,

senão o que é nosso,

o vosso só queremos.

se for maior do que o nosso!

 

É mau cobiçar,

quando o vício é vosso,

se ele é nosso,

passa a ser desejar.

 

Mexericos, são os dos vizinhos,

os nossos são verdadeiros,

embora iguaizinhos:

o mesmo querem ambos,

parecerem melhores

do que na realidade eles são.

 

Quem tudo crítica,

mas nada faz,

tudo destrói,

nada constrói.

 

 

 

Jorge C. Chora

   9/1/2024

sábado, 6 de janeiro de 2024

UM CHAMADO

 

UM CHAMADO

Longe ou perto podes estar,

mas se me chamares,

esteja onde estiver,

responderei ao teu chamado.

Trar-te-ei mesmo ao colo,

aninhada ao meu peito,

sentindo os teus seios,

mirando-os com devoção,

beijá-los-ei se quiseres,

até me sussurrares ao ouvido:

- Querido, quero mais!

        Jorge C. Chora

             6 /1/2024

A TRISTEZA DE JOANA

 

Jana vivia triste e amargurada. Um dia confiou ao amigo vento a razão do seu tormento:

-  Não tenho namorado…

E o vento, surpreendido, respondeu-lhe:

- Mas tu tens tantos amigos e amigas, para que queres um namorado se só tens quinze anos?

-Não quero só amigas e amigos, quero, isso sim, um namorado! Tu não percebes nada - e as lágrimas vieram-lhe aos olhos.

E o vento condoeu-se de Joana e acabou por espalhar por todo o Mundo o desejo da amiga.

 Os candidatos não tardaram a aparecer, de todo o lado, aos centos, das Américas à Mongólia.

Nenhum mostrava um real desejo de a conhecer: uns julgavam-na rica, outros famosa e outros, uma rainha de beleza que lhes dava um estatuto.

Desiludida e ainda mais triste do que estava, confessou ao vento a sua desilusão.

Este sorriu e disse-lhe:

-Já percebeste que um namorado deve ser alguém, que te conheça, goste de ti como és e tu dele do mesmo modo?

-Sim…

-E não conheces ninguém assim?

-Sim, mas não sei se gosta de mim! - e corou por diversas vezes e começou a chorar convulsivamente.

- E já lhe perguntaste ou ainda não? Não me digas que não, que armo já um pé de vento! -e a voz do vento elevou-se de tal modo, que a vizinha de cima, apareceu espavorida à porta da Joana.

Manuela, dois anos mais velha do que Joana, ao vê-la em lágrimas, abraçou-a, beijou-lhe os olhos, pegou-a ao colo, também chorou e pediu-lhe, com uma grande ternura;

- Não chores minha querida, eu estou aqui, nunca te disse, talvez por timidez, mas digo-te agora, que gosto de ti de uma maneira especial.

Joana anichou-se, passou-lhe os braços pelo pescoço e beijou-a com todo o amor que lhe tinha e nunca o declarara.

E o vento, embora cabeça-de -vento, soprando-lhe suavemente o cabelo, sussurrou-lhe:

- Minha querida Joana, às vezes não é preciso procurar longe, quando temos bem perto quem amamos e nos ama!

Cinquenta anos depois, Joana e Manuela continuam a viver juntas e passam a vida quase sempre de mãos dadas, quer em casa quer quando saem.

 

Jorge C. Chora

6/1/2024

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

O PESCADOR E A SEREIA

 


 

João morava numa cabana à beira-mar. Anexa à mesma, um pequeno barracão onde guardava os apetrechos de pesca e um bote.

Um dia saiu de madrugada no seu pequeno barco para pescar. Mal lançou a rede sentiu que algo grande tinha apanhado. Com esforço puxou-a para o bote.

No seu interior vinha uma linda mulher, ainda jovem, com um rabo de peixe. Era uma sereia. Ela sorriu-lhe e disse-lhe:

- Tenho-te visto todos os dias, sei que te chamas João porque os teus amigos pescadores assim te chamam. Quero conhecer-te melhor, por isso entrei na tua rede. Também sei que só pescas o que deves e respeitas o mar. Já te vi lançar à água tartarugas, golfinhos e peixes pequenos.

- E tu minha linda menina como te chamas e que idade tens?

- Tenho dezoito, mais ou menos a tua idade, e chamo-me Sofia. Vivo no mar, ao pé da rocha que fica ao pé da tua casa. Já te quis chamar, mas vejo-te tão cansado ao regressares da pesca que tenho evitado. Nos dias de calor, quando dormes na praia e tens dificuldade em adormecer costumo…

João interrompeu-a:

- Não me dias que és tu que cantas para eu adormecer…

- Sim, sou eu. Já me quis deitar ao teu lado, mas só me dou na água embora possa permanecer em terra por pouco tempo.

João olhava-a admirado e não se coibiu de manifestar o seu agrado:

- És tão bonita e cantas tão bem, Sofia. Tenho pena de só agora te conhecer…

A partir daquele dia, Sofia ia ter com ele quando João pescava. Ele puxava-a para o barco e conversavam. De vez em quando ela mergulhava e tornava a ir ter com ele ao bote.

João construiu-lhe uma pequena piscina, em pedra e chão de areia, ao pé da rocha e um abrigo ao lado, onde passou a dormir. De dia ela estava com ele no bote e de noite, dormia de mão dada, ele na rocha e ela na água.

Os anos passaram-se. João tem a cabeça toda branca e o rabinho de Sofia já pouca escama tem, mas há algo que nunca mudou: continuam a dormir de mão dada, ela na água e ele em terra e Sofia a adormecê-lo, a cantar, como sempre fez.

Jorge C. Chora

2/1/2024