Homem recto, honesto e temente a Deus, tinha um amigo que
lhe pediu que intercedesse por ele, junto ao Divino, quando estivesse na sua
presença. Arqueou as sobrancelhas e esteve vai não vai para lhe recusar o
pedido. Reconsiderou e acabou por assentir.
-Posso escrever um cartãozinho?
Respirou fundo, conteve-se mais uma vez…e disse que sim.
Para que quereria escrever o pedido? tinha medo que se esquecesse?
Inacreditável!
Durante a semana, a notícia espalhou-se: o santo aceitava
pedidos para interceder junto ao Senhor! Choveram pedidos de intercessão
escritos, que ele mandou colocar no saco plástico do hipermercado, destinados a
ser cremados com ele! Que outra opção tinha?
A semana passou e o santo não só não morreu, como se
restabeleceu na totalidade. Milagre, foi a ideia que ocorreu a muitos do seu
círculo. Logo a seguir, lembraram-se dos pedidos que tinham feito. E agora? Ele
estava na posse dos seus segredos, pensaram aterrorizados. Aquilo cheirava-lhes
a marosca: foi uma armadilha, só pode ter sido. Agora vai contá-los.
O primeiro a fazer-lhe o pedido, roubou-lhe o saco dos
cartões e movido pela curiosidade mórbida foi lê-los. Entre eles encontrava-se
o de sua mulher, que pedia perdão a Deus por odiar o marido e andar com o santo,
que lhe levaria a solicitação do perdão.
A situação não foi dramática pois, estava assinada como
pertencendo a Madalena, que não era o seu nome.
Ainda hoje procuram, sem sucesso, identificar a Madalena que
dormia e se reconfortava com o santo pela calada.
-Aquela pecadora desavergonhada! Quem diria, mulher…
-exclamava, morto de curiosidade, o marido odiado.
-Valha-nos S. Pedro… - concordava a mulher.
Jorge C. Chora
29/6/18