Luiz Aguiar, é brasileiro, reside na Amadora e recorda um
Natal passado em Belém do Pará, com direito à visita de um sobrinho, vindo de
propósito de Macapá, um outro estado do Brasil.
Recebeu o telefonema do sobrinho, anunciando a visita
natalícia e simultaneamente o desejo de comer, à consoada, um pato no tucupi
(uma receita feita com um especial preparo de mandioca).
Luiz Aguiar não podia mostrar fraqueza e nem hesitou:
- Sim meu sobrinho, o pato cá te esperará…
Atravessando uma época de grande aperto, Luiz Carlos deu
volta ao miolo. Onde iria arranjar o pato ao preço a que se encontrava?
Andava a matutar na solução quando ela se lhe atravessou no
caminho. O enorme e vaidoso galo, rei incontestado lá do terreiro, passou-lhe
todo gingão, de crista levantada, à sua frente, quase lhe pisando os pés. Ora
nem mais, pensou, olhando de soslaio o grande galo.
O galo embora não tenha gostado daquele olhar de viés, não
conseguiu escapar ao facalhão exterminador, e acabou na panela.
À consoada, o sobrinho gabou a qualidade do pato e da
cozinheira:
- Nunca comi pato tão saboroso quanto este! Valeu a pena vir
de tão longe …
- Ainda bem que gostou, meu sobrinho… – comentou aliviado o
tio.
-Se me garantirem um prato com a qualidade deste, virei
todos os anos ver os tios e deliciar-me com o pato no tucupi!
E Luiz Aguiar, olhou de soslaio para o terreiro onde havia
mais alguns pequenos galos, e respondeu-lhe:
-Para o ano que vem, lá te arranjaremos mais um grande pato
à tucupi!
Jorge C. Chora
24/12/19