Sebastião era o vigário de uma pequena vila, cujos
habitantes se benziam à sua aproximação. Não era santo nem milagreiro e muito
menos a encarnação do demo. Então por que reagiam assim os seus paroquianos?
O padre tinha de prestar os seus serviços em diversas
aldeias do concelho, mas havia algo inultrapassável: enjoava ao andar de carro.
Ao seu serviço tinha um velho jipe que conduzia pelas ruas
estreitas das aldeias. À medida que conduzia, ia vomitando, conspurcando a
batina com pedaços das refeições, agarrado ao volante, como se conduzisse um
zepelim. Nunca recusou assistência a ninguém, nem a nenhum dos povoados. Sempre
que alguém se cruzava com ele na estrada, benzia-se e saía do caminho, o mais
rápido possível, esperando sobreviver ao encontro.
Quando entrava na vila, os habitantes apressavam-se a
esconder-se onde podiam. Um visitante estranhou o comportamento dos locais,
nomeadamente as fugas e a procura aflitiva de esconderijos, quando o cura
surgia ao fundo da rua a conduzir o “tanque de guerra”.
- Ninguém me diz o que se passa? – gritou o incauto.
-Esconda-se…depressa…
E o “turista” agachou-se atrás de um contraforte, mesmo a
tempo de ver uma parte do apoio do edifício ser arrancada pelo jipe, com o
vigário ao volante a vomitar a batina.
Depois de muito discutir, a população que tinha o maior
respeito pelo vigário, achou a solução: falar ao sacristão e convencê-lo a
telefonar aos bombeiros, sempre que o reverendo saia, informando-os da hora do
seu previsível regresso.
Desde essa época, sempre que ele saia e a sirene tocava, o
vigário reclamava:
-Deus me perdoe, mas estes bombeiros contraíram o vício de
ligar a sirene! Ainda por cima não há vivalma nas ruas! Terra tão estranha como
esta nunca conheci…Perdoe-lhes Senhor que eles não
sabem o que fazem!
Jorge C. Chora