sábado, 30 de setembro de 2023

OS TRÊS DIAS

 


João apaixonou-se pela Elsa, uma jovem alta, de espírito vivo e de uma simpatia contagiante.

Elsa deu-lhe sinais de que podia ter algumas esperanças e poder vir a

aceitá-lo, impondo-lhe, no entanto, uma condição: deveria beijá-lo e dar-lhe a resposta só três dias depois.

João aceitou a proposta e recebeu um demorado e delicioso beijo. Aguardou os três dias pedidos por Elsa, com impaciência e nervosismo.

No dia combinado, Elsa cumpriu a sua palavra. Foi ter com João e disse-lhe:

- Meu querido, o prometido é devido. Beijei sete piores do que tu e iguais a ti foram…

João interrompeu a explicação:

- Querida Elsa, desisto do meu pedido de namoro.

Elsa arregalou os olhos e, surpresa, inquiriu-o:

-Desistes só por eu os ter beijado?

. Sim, mas não só, pois agora vais querer dormir comigo e pedir três dias para me dares a resposta…

 

Jorge C. Chora

30/9/2023

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

SEDUÇÃO

 

O teu olhar é afago antecipado,

um amanhecer renovado,

abraço gostoso e apertado,

suco aquoso e desejado,

a certeza de ser amado,

o grito de prazer anunciado.

 

        Jorge C. Chora

           29 /9/2023

terça-feira, 26 de setembro de 2023

DE REI A BARBEIRO

    


Zé Gonçalves, é um investidor por excelência. Ganhar dinheiro era o seu modo de

vida, a sua razão de viver. Sabia ganhar dinheiro como poucos e era alcunhado como o “Rei Midas.”

Nos seus investimentos diversificados, nunca colocava os ovos no mesmo cesto.

Agora investira num restaurante e estava feliz no dia da sua inauguração.

Alguns dos seus conhecidos, amigos tinha poucos, perguntaram-lhe de que tipo era o seu restaurante.

-De que tipo? - surpreendeu-se.

-Sim, se é para remediados, para pobres ou predominantemente para ricos…

- É para todos, absolutamente para todos… - respondeu convicto.

E os conhecidos, observando os luxos patentes em cada canto, em surdina comentaram:

- O “Rei Midas” passou à categoria de “barbeiro”!

- Como assim? - questionou um deles.

-Agora vai passar a tosquiar, só os pobres como também os remediados e os ricos!

 

Jorge C. Chora

26/9/2023

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

A LISBOA DAS TASQUINHAS

 

Na Lisboa das tasquinhas,

comiam-se pataniscas,

caldo verde em malgas,

bifanas e iscas ensopadas,

saídas de frigideiras

empapadas de gorduras,

bebiam-se copos de três,

e pastéis de bacalhau.

No meio da barulheira,

das encomendas gritadas,

dos empurrões ao balcão,

ainda se ouviam as vozes

roufenhas do Marceneiro

ou as tiradas da Hermínia,

emitidas por velhos rádios,

cobertos por naperons.

Num canto, dois ou mais gingões

jogavam à moedinha,

a ver quem pagava a rodada,

enquanto esperavam pelos

ganhos da noite, feitos

pelas mulheres que exploravam.

À porta assavam-se couratos e sardinhas

que enchiam de fumo a tasca

e alguns, no meio da fumarada,

 tentavam esgueirar-se sem pagar,

acabando por pagar em dobro,

com um galo e um olho negro.

Eram assim as tasquinhas,

porta sim, porta não,

por essa Lisboa fora,

feita de malandros e gente boa.

     Jorge C. Chora

   20/9 / 2023

domingo, 17 de setembro de 2023

SEGUNDAS NÚPCIAS

A saúde da esposa,

inspirava cuidado

e o marido, resignado,

via com agrado,

uma futura esposa.

Veio o diabo, levou-o a ele,

e deixou-a em paz,

mais os seus cuidados.

No funeral, foi consolada

e por amigos abraçada.

Sentiu-lhes os desejos,

e os calores dos encostos;

apertou-os e ajeitou-os,

de modo a senti-los,

e a coincidirem com certos sítios,

prolongando as despedidas

à medida do calor dos desejos.

Casou-se em segundas núpcias

e quatro meses após,

despachou o segundo

e ainda hoje está viva

e continua com calores.

Está pronta a afogá-los a toda a hora,

assim ache quem não tenha receio

de ser o próximo a “bater a bota”.

      Jorge C. Chora

      17/9/2023

 

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

OS PRURIDOS PORTUENSES OU O PAÍS ÀS AVESSAS


Na cidade do Porto, pátria da defesa das liberdades, nasceu um grupo iluminado, que quer mandar às urtigas a bela estátua de Camilo, da autoria de Francisco Simões. O motivo alegado não colhe e é, na minha opinião, insensato, e indigno de tão ilustres munícipes.

Concordaria se a mulher nua, representativa da Mulher na obra de Camilo, segundo o seu autor, tivesse uma das nádegas maior do que a outra, fosse enorme e disforme, não honrasse o bom gosto de Camilo.

Em Lisboa, no cimo do parque Eduardo VII, com a melhor vista da cidade na minha opinião, João Cutileiro, homenageou a Revolução de Abril, com um enorme símbolo fálico, simbolizando o vigor da mesma.

É de bom tom, um intercâmbio cultural entre as duas capitais. Para Lisboa viria a estátua de Camilo, que estou certo, deliciaria os lisboetas e para o Porto o símbolo fálico, que consideram o São Car(v)alho o pai da humanidade e o invocam com a maior candura e devoção, a propósito de tudo e de nada.

Nada me move contra o Porto, cidade que adoro e era a terra do meu avô materno, sendo o meu outro avô do Alentejo onde pontifica o São Cabrão, que também lá não é asneira nenhuma.

Fica a sugestão e perdoem-me ter-me permitido ir contra a opinião de tão sábios grupos iluminados, embora despóticos.

Peço antecipadamente desculpas pela minha ousadia.

Jorge C. Chora

15/9/2023

  

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

A BORBOLETA

 

A BORBOLETA

Tu és uma borboleta,

entre todas a mais invulgar,

pouses onde pousares

há sempre alguém a olhar.

Quem me dera ser folha,

poderes em mim descansar,

refrescar-me com as tuas asas,

deliciar-me com a tua visão,

acarinhar o teu cansaço,

defender-te da ventania,

até poderes tornar a voar.

 Jorge C. Chora

24/9/2023



terça-feira, 12 de setembro de 2023

AS QUATRO ESTAÇÕES

 

Já me tarda a minha amada,

ainda agora saiu de casa

e já tanta falta me faz.

No inverno é o calor do lar,

no verão a sua frescura,

na primavera o aroma;

e no outono, a alegria e a folha perene.

É o meu amor nas quatro estações,

a fonte das minhas emoções,

e por isso tanta falta me faz,

ainda mal saiu ou pensa sair,

logo me tarda a minha amada.

     Jorge C. Chora

     12/9/2023

 

domingo, 10 de setembro de 2023

PUDERA

 

Comeu uma dose de leitão,

a seguir uma de feijão,

depois um grande pão

e uma fatia de bolo de Alfeizerão;

para acompanhar, um litro de Dão.

Após terminar a refeição,

produziu a seguinte exclamação:

_Sinto-me tão cheio e não sei por que razão!

 

      Jorge C. Chora

      10/9/2023

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

AS DORES

 

As dores físicas mostram-se por expressões,

manifestadas quase sempre por interjeições,

 e também, muitas vezes, por palavrões.

As dores d’alma e as rejeições,

registam-se poeticamente,

porque o poeta “finge tão completamente

que chega a fingir que é dor

a dor que deveras sente”

tal como já alertava Fernando Pessoa.

 

      JORGE C. CHORA

         8/9/2023

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

UM AMIGO É.

 

UM AMIGO É…

Um amigo é uma joia rara,

um grão de areia no deserto do Saara,

um oásis com poço e tamareira,

um vento benfazejo à tua beira,

empurrando para lá da fronteira,

toda a maledicência que de ti se abeira,

toda a inveja que te rodeia,

defendendo-te de toda a desgraceira.

 

        Jorge C. Chora

            6/9/2023

domingo, 3 de setembro de 2023

DESENCONTRO

 

Vê-o e deseja-o,

mas finge desconhecê-lo,

embora o ame

e nada lhe diga.

Nem sabe que ele,

tem por ela,

o mesmo sentimento

e igual pudor.

Ficam e ficarão por ali,

cada um no seu canto,

mudos e ensimesmados,

um sem o outro,

fingindo não se quererem.

 

    Jorge c. Chora

      3/9/2023

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

A SABIDA

 

O rabo bamboleava,

atraindo quando andava,

quatro olhos hipnotizados,

todos eles apaixonados.

Ninguém dela se aproximava,

porque seu olhar queimava

e eles de medo tremiam,

quando ela se zangava.

Receosos, olhos arregalados,

um deles namorava,

quem a trela segurava;

o outro, com a dona ocupada,

lambia-a e afagava-a e ela deixava,

e sempre que a dona olhava,

mostrava os dentes e rosnava,

como detestasse ser apaparicada.

          Jorge C. Chora

               1/9/2023