segunda-feira, 28 de novembro de 2022

VINHO MARTELADO

Bebi um copo de tinto,

arrepiei-me com o vinho

era uma zurrapa, não minto,

e na cabeça ainda sinto,

um triplo mal-estar distinto:

O sabor, o preço e pressinto

ter surgido, na testa, um espinho.

Vou ao espelho e verifico

o nascimento de um pico.

Se pedir outro tinto,

ainda me nasce outro pico

e dois espinhos na testa,

à custa de um copo de vinho,

Deus me livre de tal dislate,

e ainda ter de pagar por isso!

 

          Jorge C. Chora

            28/11/2022

domingo, 27 de novembro de 2022

O SEGREDO DE ANTÓNIO

Entrou no laboratório com cara de poucos amigos. O perfumista, que o conhecia de longa data, questionou-o:

-O que tens Bernardo? O que te aconteceu?

- Nem queiras saber… Nunca se tinha passado algo semelhante durante toda a minha vida!

Conta, conta que eu quero saber, e ajeitou-se ao balcão. Colocou a bandelete, passou a mão pela longa cabeleira pintada de louro, alisou as sobrancelhas aparadas e predispôs-se a ouvir.

- Hoje tudo me corre mal. Estava no banho quando vi que me faltava o sabonete. Pedi à minha mulher que me trouxesse um. Ela disse-me que os meus habituais se tinham esgotado e entregou-me uma loção de banho, até acho que feita por ti.

Mal entrei no metro, tenho a impressão de que me apalparam. Durante toda a viagem, não sei, mas iria jurar que me apertavam de propósito.

-E então, não foi agradável?

-Não, eram homens e não mulheres António!

António deu uma gargalhada:

-Bernardo, usaste a loção feita por mim e para mim! Como é que achas que eu tenho tantos namorados?

E foi só aí que Bernardo percebeu a razão do António ter de trabalhar sempre de pé!


  Jorge C. Chora

     27/11/2022

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

O HOMEM CUJA MULHER DORMIA COM OUTRO

Numa farmácia a transbordar de clientela, um cliente enfarpelado e com um ar importante, é atendido no balcão por uma jovem e simpática farmacêutica.

O senhor ia buscar medicamentos para a sua esposa, nomeadamente para ela dormir melhor.

Feito o pedido, a jovem profissional, franziu a testa e disse ao cliente, que já conhecia de longa data, que sabia ser outro o medicamento usado e não aquele que o cliente estava a pedir:

-O senhor desculpe-me o que vou dizer, mas a verdade é que a sua esposa dormia com outro…

Os presentes na farmácia, arrebitaram as orelhas. O segredo interessava-lhes sobremaneira: um homem cuja mulher dormia com outro?

O senhor, pensou um bocado e respondeu:

- Não faço a mínima ideia se é com outro que ela dorme…talvez seja, mas desconheço em absoluto ou melhor, não me lembro se é com aquele ou outros ainda… Mas tanto faz é preciso que ela esteja bem servida.

O espanto crescia entre os ouvintes. Um marido que se preocupava de tal modo com o bem-estar da mulher, ao ponto de a deixar dormir com outros?

E no meio da multidão, ouve-se um desabafo:

-Quem me dera que o meu fosse assim!

 

Jorge C. Chora 

25/11/2022

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

ENSINAR

 Bater não é ensinar,

apanhar não é aprender,

é só receber a raiva

de quem bate,

desencadear a fúria

de quem apanha!

Ensinar é dar e ter

prazer em aprender!


Jorge C. Chora

24/11/2022

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

ANGÚSTIA


Hoje procurei-te,

a cidade percorri,

andei atrás de ti

as vielas corri,

e não te vi.

Aí de mim

passei o dia sem ti,

contigo na mente,

sem me saíres do pensamento

e nem sequer te vi

e continuo sem saber de ti!

 

Jorge C. Chora

23/11/2022

terça-feira, 22 de novembro de 2022

A LENGALENGA DA POUPANÇA

Se poupar é ganhar,

como explicar

os que têm e não poupam

e os que poupam e não têm?

Pois, só poupa quem tem

para investir e acompanhar

a sede, de quem tem a ganhar

à custa de quem pouco tem

e é obrigado a poupar,

a guardar para poder comprar,

metade do que ontem levava,

e isso se quiser jantar!

 

Jorge C. Chora

22/11/2022

 

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

A MÃE


Com o desejado filho no ventre,

a mãe ostenta um sorriso

de confiança e vitória;

os seus passos são pesados

e seguros, a sua barriga

rotunda, é a casa, a fortaleza,

a defesa do seu rebento,

a carapaça de aço protetora

e a certeza de que nada de mau

lhe pode acontecer até nascer.

Pena tem ela de que

o seu ventre não possa

ser um abrigo, uma garantia

um porto seguro para a vida.

      Jorge C. Chora

      17/11/2022

domingo, 13 de novembro de 2022

O DINOSSÁURIO E A LANTERNA -HISTÓRIA INFANTIL


Era uma vez um dinossáurio chamado Comilão que comia de manhã, a meio da manhã, ao almoço, ao lanche, antes do jantar, ao jantar e à ceia!

 Já perceberam por que razão se chamava Comilão? Só comia verduras, mesmo muitas, como sabem.

À medida que foi envelhecendo, todos os dias tinha mais dificuldade em andar. Os seus filhos passavam uma parte do dia a colher as ervas para ele continuar a comer todas as refeições a que estava habituado.

O Comilão tanto, mas tanto comeu, que os seus dentes foram-se gastando e caindo. Só podia comer verduras muito tenras e demorava mais a mastigar.

Embora tivesse mais dificuldades em andar, todos os dias saía e adorava sair à noite, porque as ervas estavam mais húmidas e saborosas. Quando os olhos começaram a fraquejar, todos os dias aparecia com um galo na cabeça porque ia contra as árvores e fartava-se de tropeçar e cair.

Quando lhe disseram que não devia sair à noite, ficou magoado e respondeu:

-Era só o que me faltava! Gosto dos meus passeios noturnos. Fazem-me bem, distraem-me e não é por ter mais ou menos galos que vou ficar na caverna!

De nada valeu a preocupação dos filhos até que um entre os dez, teve uma ideia: e se o pai pudesse ver à noite como de dia?

Uma risota geral fez estremecer a caverna.

- Que ideia tão idiota- exclamaram os irmãos.

- A ideia é muito boa, mas… – disse o pai.

De repente, um raio caiu sobre a árvore em frente à caverna e incendiou--a. A noite ficou de dia.

Os filhos recolheram os ramos a arder e lembraram-se de ir alimentando o fogo com ramos que iam recolhendo.

À noite, o Comilão podia levar um dos paus e ver como se estivesse de dia.

Era uma lanterna do tempo dos dinossáurios.

Jorge C. Chora

12/11/2022 

LUÍSA E HELENA


Quando o amor

à porta bate,

e é recíproco,

Helena mergulha

no azul-mar

dos olhos de Luísa,

trocam olhares de desejo

e promessas d’amor.

Ambas anseiam

por carícias mútuas,

segredos partilhados,

entregas incondicionais

e ais de prazer sentidos

e não fingidos, refletidos

na alternância frenética

e gostosa, de azul-mar para verde

dos olhos de Luísa,

em cujas cores se derrete Helena,

a comprovar o amor das Marias.

 

      Jorge C. Chora

     13/11/2022 

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

A GALINHA COXA


O cheirinho a frango assado proveniente da caixa onde o transportava, chegava-lhe ao cérebro.

De repente, uma força malévola nascida no estômago, levou-o a abrir a caixa, levar uma perna do frango à boca e devorá-la num ápice.

Depois de a comer é que caiu em si. E agora o que vou dizer lá em casa? Todos gostam de perna e como vou justificar este meu ato devorador?

Até casa foi pensando no que dizer, qual a peta que iria pregar, mais ou menos credível para não ouvir a reprimenda mais que certa.

Ao chegar, a mesa já estava posta e a travessa só esperava o frango para se dar início à refeição. A mãe abriu a caixa e foi dispondo os pedaços, artisticamente, em torno do puré. Ao dar por falta de uma das pernas, exclamou:

-Oh! Só há uma perna!

-Também estranhei, mas o senhor do restaurante disse-me que a galinha era coxa!

O irmão mais novo, sabendo da ratice do mano velho, aproveitou a ocasião para, sem ninguém ver, espetar e comer as moelas e fingir-se muito surpreendido:

- Para além de coxa, era deficiente porque não tem moelas!

O comilão da perna, quase deu uma gargalhada, mas conteve-se. Percebeu de imediato a estratégia do mais novo.

Os pais fingiram acreditar nas patranhas e comentaram:

- Bom, vamos comer o que o frango deficiente ainda nos pode oferecer!

 

Jorge C. Chora

11/11/2022

 

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

UM PORTIGUÊS DESENRASCADO

 

Há alguns anos, um pescador contratado para substituir um colega na faina piscatória para as bandas do Alasca, teve de deslocar-se sem a companhia de nenhum colega.

O profissional em questão, não falava nem inglês, nem francês e em relação ao português, com alguma atenção por parte dos ouvintes, entendia-se o que queria.

Ao chegar a Anchorage, ia morto de fome. Entrou num restaurante e quando o empregado lhe perguntou o que queria, não esteve com meias medidas: abriu os braços e pôs-se a cacarejar:

-Cócórócó… e levantava os braços.

O empregado não teve dúvida nenhuma: trouxe-lhe um frango.

Já com a comida na sua frente, levantou o polegar e fez o gesto de querer beber. O empregado coçou a cabeça. Mas que bebida quereria o cliente?

Abriu as mãos e afastou os braços, como que a perguntar qual a espécie de bebida quereria. O português, de imediato, antes que lhe trouxessem água ou outra bebida esquisita, voltou a levar o polegar à boca e balanceou-se para a esquerda e para a direita.

-Wine? -questionou o empregado.

Esta palavra, não era a primeira vez que ouvia e sabia ser exatamente o que queria. Levantou os dois polegares e de imediato lhe trouxeram uma garrafa de vinho.

Para pagar, também não precisou de ser versado em línguas. Na palma da mão fingiu rabiscar e trouxeram-lhe a conta.

Não sei se a história é verdadeira ou um simples mito do desenrascanço nacional, mas não me custa nada a acreditar pois se algum de nós estivesse na Rússia atual (Livra!) e quisesse comer, não tenho qualquer dúvida que nos safaríamos assim!

 

Jorge C. Chora

10/11/2022

terça-feira, 8 de novembro de 2022

FALAR SEM PENSAR


Dia sim dia não, acontecia

Nelson discutir com Marina:

Eram como cão e gato,

gata, neste caso,

mal estavam um ao pé do outro.

Numa das discussões, Nelson,

sem pensar antes de falar, disse:

-Eu até gosto de ti…

Marina ruborizou-se e balbuciou:

- É curioso, que também eu…

Entreolharam-se, comprometidos,

com o revelar do segredo íntimo,

tantos anos recalcado e escondido.

Marina agarrou na mão de Nelson

e beijou-a, enquanto Nelson lhe

afagou amorosamente a cabeça.

Os colegas bateram palmas

enquanto desabafavam:

- Até que enfim…todos sabíamos que vocês

não passavam um sem o outro!

     Jorge C. Chora

      8/11/2022

domingo, 6 de novembro de 2022

A RAINHA DOS PRAZERES (MAIORES DE 21)

 

Entre as flores sem pudores,

há uma com muitos admiradores:

 É a rosa, bonita e cheirosa,

 quase toda a gente gosta

 e pode escolher as cores.

 Dão-se às namoradas e amantes,

abertas, semiabertas ou em botão.

Há quem adore comê-las e as ofereça,

 não se importando de em sua substituição,

oferecer o seu próprio botão de rosa,

aos gourmets que gostam e apreciam,

estes simples e requintados prazeres.

        JORGE C. CHORA

         6/11/2022

sábado, 5 de novembro de 2022

À ESPERA DOS PARDAIS

Deixei-a ir, logo

me arrependi:

ela já era minha,

mas eu não era dela,

pensava eu assim!

Soube que tinha partido

e ninguém dela sabia.

Foi quando uma amiga

me disse, que partira

muito desiludida,

porque amava quem achava

que ele já era dela,

e descobriu, não ser ela dele!

e o seu amor, meu Deus, era eu!

Passo agora a vida, no jardim,

 à espera de que os pardais me digam,

onde a posso encontrar!

 

        Jorge C. Chora

            5/11/2022

 

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

 

AS BACORINHAS

O cantor avinhado,

a viola dedilhando,

chama às “amigas”

malcomportadas,

nas suas cantorias,

as suas Bacorinhas.

Seguem-se insultos

e gestos muito feios.

Reage o cantor avinhado

afirmando ser um elogio

chamar-lhes Bacorinhas.

E sob a forma de adivinhas

nos seus arrastados cantos:

Qual é a coisa qual é ela,

em que tudo se aproveita,

nada faz mal e nos delicia?

E no interior da taberna,

surge cantada a resposta,

ao jeito do cante:

- Só as belas bacorinhas!

 E as mui sábias “amigas”,

entram sorrindo, escolhendo

cada uma o seu barrão costumado!

     Jorge C. Chora

       4/10/2022

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

O CONVENTO FOI DE FÉRIAS?

 

Ir a Mafra e não ver o convento,

é muito menos provável do que

ir a Roma e não ver o Papa.

Mas hoje fui a Mafra, passei ao lado

do palácio e não o consegui ver!

Ninguém me disse que ele fora de férias,

mudara de lugar, fora apanhar ar,

ou fechara para descanso e ir viajar!

Pura e simplesmente não o vi,

nem eu nem ninguém, pelo menos

quando passei pelo sítio onde ele

costuma estar e permanecer há séculos!

Estava tapado, não com cobertores,

mantas de papa ou panos de feira

da Malveira, já que todas as quintas

há de tudo na terra da Beatriz Costa.

Estava todo coberto de nevoeiro,

sem qualquer agasalho, queira Deus,

que não se constipe,

e deixe Mafra viúva do seu ex-libris!

       Jorge C. Chora

           3/10/2022

terça-feira, 1 de novembro de 2022

CARLOS E O BACALHAU

Há muitos anos existiu um restaurante na Amadora, na freguesia da Mina, que hoje ainda existe, mas tem outro nome e já teve inúmeros proprietários.

Na altura, o restaurante pertencia ao sr. José Mangas e o sr. Carlos era o empregado.

Num dia em que não havia muito movimento, à porta apareceu um casal de estrangeiros. Não falavam português e ainda hoje não sabem qual era a sua língua natal.

Mostraram-lhes o menu, mas foi o mesmo que nada.

Não lhes dava jeito nenhum que o casal não jantasse e os perdessem como clientes, nesse dia em que o movimento até estava a ser fraco.

O sr. Carlos foi buscar uma travessa, uma vela e uma panela vazia. Apontou ao casal um prato de bacalhau que estava na montra, enquanto acendia a vela por baixo da travessa. Por outro lado, mostrou-lhes a panela e a decisão do casal foi imediata: apontaram para a travessa de bacalhau com a vela por baixo.

- O sr. Carlos faz-lhes o sinal de ok e informou – bacalhau assado.

E o casal confirmou:

-“Baclau asado”.

Comeram, beberam e adoraram o pitéu.

No final, para mostrarem o seu agrado, gratificaram o empregado com uma gorjeta de trezentos escudos, que era o troco que iam receber.

Trezentos escudos, na época, era a renda de uma bela casa!

Ainda hoje o sr. Francisco suspira por outra igual, mas não tem sorte nenhuma!

Outros tempos!

 Jorge C. Chora

1/11/2022