segunda-feira, 29 de junho de 2020

PAÍSES CIVILIZADOS?


Carentes de abraços,
mimos e beijinhos,
estamos tristonhos
por falta dos mesmos.
Para nos entristecer
ainda mais,
 estamos o turismo a ver
ruir,
e a acontecer, logo,
pela mão dos ingleses e não só,
a caça aos nossos visitantes,
proibindo-os de nos visitar!
A falta de ética de países ditos
civilizados, mostra-nos como
estamos enganados,
ao achar que é na Europa
que os podemos encontrar!
Mostrando que aqui e agora,
vale tudo,
até tirar olhos.

JORGE C. CHORA
  29/6/2020

sábado, 27 de junho de 2020

O UMBIGO DE VÉNUS


Adoro o perfume
da sua pele aveludada,
quando a abraço pela cintura
e lhe beijo o umbigo.
Sinto-a pulsar,
respirar,
renascer,
ligar-se a mim
e eu a ela,
pelo despertar de uma súbita
prontidão amorosa.

Jorge C. Chora
  27/6/2020

quarta-feira, 24 de junho de 2020

AS JURAS DE JUDAS




Está por vir o dia em que Judas não faça um juramento. A propósito de tudo e de nada, o homem jura, rejura, trejura…

São inúmeras as pessoas que passam a vida a jurar. Não é por aqui que o gato vai às filhós. A particularidade dos juramentos à judas é bem outra e há quem diga, originalíssima. Ele jura pela saúde dos filhos, não dos dele mas à saúde dos filhos dos outros! Dos amigos, dos familiares dos amigos e por aí fora.

Quando se irritam com ele e lhe perguntam a razão porque não jura em seu nome próprio, sorri e diz:

-Comprometer a minha palavra? Nunca!

-Então as tuas juras não valem nada?

-Claro que valem. Valem o que valem! Dependem da palavra das pessoas que eu comprometi nas juras. Se eles querem cumprir cumprem, senão não cumprem!

E conclui com um ar sereno:

-Eu cá não me comprometo…

-Mas Juras!

-Ó, isso sempre!

Jorge C. Chora
24/6/2020

sábado, 20 de junho de 2020

E DESDE QUANDO É QUE OS GALOS PÕEM OVOS?


A galinha não era feia nem bonita. Para além desta característica, pouco ou nada a distinguia das restantes. Havia um pormenor intrigante e esse, sim, diferenciava-a de todas as congéneres: nunca pusera um ovo!

Colocaram-na num galinheiro à parte. De lado ficou também um belo galo, com fama de imprestável: nunca galou e, portanto, nunca procriou.

O destino que lhe deram foi juntá-lo à galinha que nunca pusera um ovo. Passado algum tempo a dona do aviário acudiu aos gritos da filha mais pequena:

-Ó mãe, o galo pôs uma dúzia de ovos!

-O galo, minha filha?

--Sim… não disseste que aquela galinha nunca tinha posto um ovo? Só pode ter sido o galo minha mãe!

E a mãe sorriu, ao pensar no milagre do galo hermafrodita em que a filha acreditava. Nunca mais separou aquele casal, cujo galo tão bons lucros lhe passou a dar, com a quantidade de ovos que punha.

E foi assim que a senhora descobriu que até os galináceos podem ter depressões, quando algo não lhes corre de feição

Jorge C. Chora

20/6/2020

quarta-feira, 17 de junho de 2020

BLACK AND WHITE OU AS CHINELAS DA MODA


Passeava à beira- mar quando teve de fugir a uma onda. Perdeu as chinelas. Ficou a vê-las  serem arrastados para a água. Esperou um bocado, na esperança de as reaver com as ondas seguintes.
As suas não vieram, mas chegaram outras. Apanhou-as. Mais valia um pássaro na mão… Reparou depois, que cada uma tinha uma cor e tamanho diferente: uma era preta e mais pequena e a outra, branca e maior. Afinal, faz de conta, estava criada a moda das chinelas bicolor: tinha, nada mais nada menos do que umas “black and white”.
Observou-as com mais detalhe. A preta já quase não tinha cor, tão velha e maltratada estava, denotando uso intenso. A branca estava quase nova. Bom, o facto é que ambas serviam, mas separadas uma da outra, uma em cada pé, cada uma no seu lugar.
Um mendigo viu-o deixar a beira-mar. Ficou como que hipnotizado a olhar as chinelas e perguntou:

-Onde as achou?

-Na praia. Foram-me oferecidos por uma onda!

-É capaz de ter sido a mesma que mas tirou! - disse o mendigo.

As chinelas foram oferecidos ao mendigo, entretanto, já acompanhado de um segundo sem-abrigo.
O primeiro ofereceu a chinela branca e ficou com a preta, pois tinha o pé mais pequeno do que o outro. Como andavam sempre juntos, adoptaram a moda do” black and white”: um preto de chinela branca e o branco de chinela preta.

Agora, fogem ambos de todo o lado, porque são acusados de subversivos e de não terem tido tempo de roubar, o par das chinelas que lhes faltavam.

Jorge C. Chora
    17/6/2020

domingo, 14 de junho de 2020

A RODA DA BICICLETA QUE NÃO SUMIU


  Passava todos os dias na rua com uma roda de bicicleta na mão. A primeira vez que o viram, julgaram tratar-se de um ciclista, cuja bicicleta se tinha avariado. Com a repetição do episódio, inclinaram-se os moradores para a hipótese dele trabalhar no ramo dos velocípedes.
Um dia perguntaram-lhe se tinha alguma loja ou oficina de bicicletas.

-Tomara eu!

-Então qual a razão de …

Não foi necessário concluir a pergunta, pois o homem completou-a:

-De andar a passear com uma roda de bicicleta?

-Sim…

E o senhor, de modo paciente e educado explicou:

-Um dia o pneu da minha bicicleta furou-se. Desmontei a roda e fui a casa remendá-la. Refiro-me à câmara de ar… claro. Quando voltei, já ela lá não estava…

- Mas anda com a roda?

-Sim, ando. Se conseguir encontrá-la, coloco-lhe a roda e venho nela, porque é minha. Se acaso não for a minha, mas não tiver a roda, passa a ser minha e trago-a na mesma.
Enquanto digeriam a explicação, o homem perguntou-lhes:

-Por acaso viram por aí alguém a circular numa bicicleta sem roda? Algum dos senhores tem em casa alguma assim?

E o senhor continua a passar, todos os dias, com a roda na mão e a perguntar:

-Passou por aqui alguém numa bicicleta sem a roda da frente?

E o dono da tasca, não perde a ocasião de rotular o ex-ciclista:

- É doido varrido! Uma bicicleta, sem a roda, a circular!

Entretanto, sempre que o homem da roda passa, vai à porta e não a perde de vista. Espera, pacientemente, a oportunidade de completar a bicicleta que ele disse ter encontrado abandonada e sem a roda da frente e a levou para a sua aldeia natal.

-É doido varrido! -repete, de olho na roda da bicicleta que levou sumiço e ele diz ter achado.

Jorge C. Chora

14/6/2020



quarta-feira, 10 de junho de 2020

OS ANJOS TAMBÉM DÃO PUNS?


A procissão progredia de modo lento. Os crentes, à torreira do sol, arrastavam-se debitando a custo, os Padre Nossos e as Avé Marias.

A pequena Luísa, na companhia do pai, não perdia pitada da cerimónia. Seguia os anjos com os olhos fixos nas suas asas e auréolas, nos fatos brancos e azuis a roçarem o chão.

Os anjinhos pararam mesmo à sua frente. Luísa deleitou-se com a visão. De súbito tapou o nariz. Cheirou-lhe mal. Puxou o braço ao pai e perguntou-lhe:

-Ó pai, os anjos também dão puns?

-Claro que sim Luísa… só os que estão no céu é que não. Cá na terra todos fazem isso! Há quem diga que não, mas não é verdade! Também há quem culpe os outros daquilo que fazem…

E palavras não eram ditas, quando o anjinho donde provinha o cheiro, tapou o nariz e olhou de soslaio para a Luísa.

A pequena não gostou e em voz alta  disse-lhe:

-Os anjos também dão puns! Não precisas de disfarçar e fingires que eu é que dei! Assim não vais para o céu!

E o anjinho ao seu lado, deu uma gargalhada e disparou:

-Ó Eduardo, desta vez foste apanhado!

  Jorge C. Chora 

   10/6/2020

segunda-feira, 8 de junho de 2020

SANTOS E DEMÓNIOS


Andam beijos no ar,
de mão dada,
com a vontade de te abraçar,
dados de boa vontade
e desejo d´amizade.
Ninguém os quer colher
por serem flores,
com fama de não se cheirarem:
dizem ser todos iguais,
não em direitos,
mas em malvadez,
como se Deus tivesse dito,
que os seus filhos tinham uma só cor
e só os seus beijos podiam
andar no ar,
de mão dada com a vontade
de te abraçar.

   Jorge C. Chora
     8/6/2020

sábado, 6 de junho de 2020

O MAR É UM MENINO MIMADO

Espreguiça-se o mar,
estende-se no areal
em correrias e vai e vens,
nos dias de praia-mar.
Se o dia lhe corre de feição,
nem precisa de falar,
tão calmo se apresenta.
Quando se enfurece,
ai de quem lhe diga algo,
varre tudo o que lhe aparece,
não escuta ninguém,
é um menino mimado,
faz o que quer
e lhe dá na real gana,
tanto dá, como tira
e é tão ou mais caprichoso
do que muitos de nós.

  Jorge C. Chora
        6/6/2020

quinta-feira, 4 de junho de 2020

O FADO DA NELA



 Nascida numa viela,
sem eira nem beira,
ali vai ela, zaragateira,
batendo o pé,
e cantado ao vento
as suas tristezas e alegrias.
Eis a Nela, fadista e arruaceira,
à maneira e ao jeito d'outrora,
a quem não escutam
por andar a chinelar,
pois o fado deixou
de ser coisa de gente
sem eira nem beira,                                                                                                            
para ser de fina gente.


Jorge C. Chora
   4/6/2020

terça-feira, 2 de junho de 2020

OS TROCA-TINTAS



Sentado à mesa do café, deitava contas à vida. O futuro nada de bom agourava. Olhou através da vidraça da loja do chinês e viu quatro indivíduos a pagarem uma série de bonecos e bugigangas.
Ao saírem, os quatro vieram direitos a si e perguntaram-lhe:

-Quer ganhar 100 euros?

-Não digo que não…mas, assim do pé para a mão?

-Estamos a fazer um estudo sobre o modo como as pessoas decidem…

-E…

-Só tem de participar num jogo cujo objectivo é avaliar o seu poder de decisão…terá de pagar inicialmente 20 euros…

-Pagar ou receber?

-É que para além do dinheiro, poderá ganhar vários prémios! Vai entrar numa sala onde existem vários objectos numa mesa e poderá recolher os que quiser, desde que caibam num saco que lhe vamos fornecer. Terá de o fazer em dois minutos. Se conseguir, poderá receber não só o que recolheu, mas também os cem euros.

Renato, assim se chamava o homem, aceitou com a condição de não pagar os 20 euros.

-Mas isso é essencial para o nosso estudo…

Renato deu uma grande gargalhada. Os quatro acharam estranha a reacção e perguntaram-lhe a razão de ser da gargalhada.

-Eu explico, se me pagarem 20 euros… - e continuou a rir-se. Tanto se riu que os quatro lhe deram o dinheiro pedido.

-E agora diz-nos porque se ri com tanto gosto?

Renato cruzou a perna, recostou-se na cadeira e perguntou-lhes:
-Quanto é que pagaram pelo truque?

-O truque?

-Sim, vendi-o ao Filipe do Martim Moniz, por 50 euros já há uns meses! Os bonecos não valem quase nada e jamais se ganha o prémio, porque vocês aparecem antes e eles nunca executam a tarefa a preceito… Ficam sem os 20 euros.

-Quanto é que pagaram ao Filipe?

-A custo confessaram:500 euros!

Renato não se conteve:

-Grande ladrão!

 Jorge C. Chora
     2/6/2020