Passava todos os dias na rua com uma roda de bicicleta na
mão. A primeira vez que o viram, julgaram tratar-se de um ciclista, cuja
bicicleta se tinha avariado. Com a repetição do episódio, inclinaram-se os
moradores para a hipótese dele trabalhar no ramo dos velocípedes.
Um dia perguntaram-lhe se tinha alguma loja ou oficina de
bicicletas.
-Tomara eu!
-Então qual a razão de …
Não foi necessário concluir a pergunta, pois o homem
completou-a:
-De andar a passear com uma roda de bicicleta?
-Sim…
E o senhor, de modo paciente e educado explicou:
-Um dia o pneu da minha bicicleta furou-se. Desmontei a roda
e fui a casa remendá-la. Refiro-me à câmara de ar… claro. Quando voltei, já ela
lá não estava…
- Mas anda com a roda?
-Sim, ando. Se conseguir encontrá-la, coloco-lhe a roda e
venho nela, porque é minha. Se acaso não for a minha, mas não tiver a roda,
passa a ser minha e trago-a na mesma.
Enquanto digeriam a explicação, o homem perguntou-lhes:
-Por acaso viram por aí alguém a circular numa bicicleta sem
roda? Algum dos senhores tem em casa alguma assim?
E o senhor continua a passar, todos os dias, com a roda na
mão e a perguntar:
-Passou por aqui alguém numa bicicleta sem a roda da frente?
E o dono da tasca, não perde a ocasião de rotular o
ex-ciclista:
- É doido varrido! Uma bicicleta, sem a roda, a circular!
Entretanto, sempre que o homem da roda passa, vai à porta e
não a perde de vista. Espera, pacientemente, a oportunidade de completar a
bicicleta que ele disse ter encontrado abandonada e sem a roda da frente e a
levou para a sua aldeia natal.
-É doido varrido! -repete, de olho na roda da bicicleta que
levou sumiço e ele diz ter achado.
Jorge C. Chora
14/6/2020