O velho pescador olhou-o e disse-lhe:
-Tu és bom rapaz. Está na altura de conheceres o Joe…
Morava nas margens do lago desde que nascera e fazia anos. A
sua prenda de anos, pelo visto, era conhecer Joe.
-Mas quem é o Joe?
-Entra no bote e verás… - convidou-o o pescador.
Entrou e avançaram, em silêncio e a remos, para a margem
oposta do lago. Ao aproximarem-se de terra, pararam. O marinheiro colocou as
duas mãos em forma de concha e soprou. Ouviu-se uma suave e bela melodia.
As águas do lago agitaram-se e surgiu um peixe com uma
enorme cabeça. O rapaz tremeu de medo.
-Nada receies. Joe reconhece os amigos. É o mais antigo
habitante do lago. Não há nenhum dos actuais pescadores que seja mais velho do
que ele. Quando aqui chegaram já Joe cá estava.
-Mas Joe é um nome…
-Sim, é um nome estrangeiro….foi-lhe dado por um americano
há muitos, muitos anos….que tinha esse nome e um dia caiu ao lago e foi salvo, dizia
ele, por um grande peixe dotado de uma enorme cabeçorra…
-E essa história é verdadeira?
-Mas não estás a vê-lo?
E nesse momento Joe, lançou-lhe um esguicho de água certeiro
que o deixou encharcado.
-Joe sabe que és como S. Tomé… está a dar-te o certificado
da sua existência embora o estivesses a ver…
Todos os dias, pela tardinha, Joe aparecia e esguichava-o, deixando-o
encharcado e pronto para o banho antes do jantar.
Nunca houve naquele lago quem morresse afogado: todos
disseram que o seu salvador tinha sido um peixe com uma enorme cabeçorra.
O sítio tornou-se famoso, atraiu investimentos de vulto e construíram
um enorme empreendimento turístico, tendo os primitivos habitantes sido
afastados do local.
No dia da sua inauguração, serviram um peixe muito grande, com
uma enorme cabeçorra que já ninguém sabia ter-se chamado Joe e ter sido a alma
desse lugar.
Jorge C. Chora