-Pois é…o preço está tão baixo …não consigo baixá-lo mais…-
defendia-se o vendedor.
-Se fossem mais em conta levava dois, em vez de um…
-respondia o comprador.
E o vendedor levantou as suas enormes pestanas, sorriu e
disse:
-Se baixasse o preço, mais valia ter ficado na minha linda
terra, rodeado de árvores do sorriso…
E mais não conseguiram ouvir porque os pais tiveram de se ir
embora e os levaram.
Bernardo e Helena, sempre que tinham oportunidade,
perguntavam às pessoas crescidas se conheciam a árvore dos sorrisos.
As respostas eram mais ou menos as mesmas:
-Árvore dos sorrisos? Nunca ouvi falar… mas até dava jeito
se existisse uma, ou mesmo algumas…
Com o tempo, Bernardo e Helena acabaram por deixar de
perguntar fosse a quem fosse por aquela árvore, tantos tinham sido os sorrisos
zombeteiros dos seus interlocutores.
Nunca mais falaram de semelhante fenómeno e fingiram calar,
bem fundo, a sua curiosidade.
Um dia os seus pais levaram-nos a um país onde ainda não
tinham ido.
Num passeio que fizeram a uma zona meia desértica e quente, ao
olharem para uma árvore de troncos retorcidos e espinhosos, não contiveram um
sorriso de espanto: em todos os troncos havia cabras empoleiradas. Entreolharam-se
e respiraram fundo: tinham finalmente encontrado a árvore dos sorrisos. Ela
existia mesmo.
Durante muito tempo, Bernardo e Helena viram as cabras
deliciarem-se com os frutos de argão, pois assim se chamavam, de acordo com a
informação dada pelos marroquinos presentes.
Bernardo e Helena suspiraram de alívio: não fora em vão, que
tinham mantido a sua curiosidade sempre presente ao longo dos anos.
E o leitor(a) sabe quão importante é o argão para a economia
marroquina e norte africana, para além de despertar sorrisos, devido às cabras
trepadoras empoleiradas nas árvores?
Jorge C. Chora
28/3/19