Após a morte da mãe, o irmão mais velho convocou os mais
novos para uma reunião, referindo tratar-se de um assunto da máxima
importância.
À hora aprazada, com todos presentes, iniciou a reunião:
-A mãe pediu-me, antes de falecer, que vos comunicasse e
mostrasse algo de suma importância para a família.
Os irmãos entreolharam-se e pediram-lhe:
-Diz-nos, sem demora, do que se trata. Não nos mates de
curiosidade.
-Vou ser breve - e logo a seguir, mostrou um cofre de couro,
informando que pertencia à família há várias gerações - ele contém a riqueza suficiente para
resolver, em caso de urgência e só mesmo nessa situação, uma aflição familiar.
Nenhum dos antepassados nem a mãe precisaram. Ela encarregou-me de vos pedir
que só se servissem dela, sublinho, em último recurso e com o consentimento de
todos.
Sessenta anos depois, por ocasião de uma festa familiar, um
dos bisnetos, na brincadeira, deitou a mão à prateleira e deitou o cofre de
couro ao chão.
Pararam as conversas e um silêncio pesado impôs-se.
A família aproximou-se, curiosa. Olharam surpresos para a
caixa que se tinha aberto: estava vazia. Não continha absolutamente nada.
Desconfiados, olharam para o irmão mais velho e ele esclareceu:
-Este cofre, é mais do que certo, nunca conteve nenhuma
riqueza. Nem os avós, nem os pais, e muito menos nós, precisámos dela. Serviu
só de segurança hipotética.
-E tu sabias?
-Claro que não! Duvido que algum dos nossos antepassados, incluindo
a mãe soubessem!
Os que viveram antes
de nós, legaram-nos uma visão de família…
-Que visão mano velho?
E o mano velho questionou-os:
- Acham que a riqueza da nossa família, alguma vez cabia neste
pobre cofre? A riqueza são vocês, somos nós meus irmãos, e a nossa união.
-Ai da família cuja riqueza cabe num cofre… - acabaram por
concordar os irmãos.
E a festa continuou, tão alegre como dantes.
Jorge C. Chora
20/11/2018