terça-feira, 2 de dezembro de 2025

A CULPA FOI DO VENTO


Ideias sem raízes,

levam-nas as brisas

e não se cultivam,

nem na terra,

nem em lugar nenhum.

Só aos falsos mágicos,

pelas cabeças lhes passam,

culpabilizar os ventos de as fazerem fracassar!

        Jorge C. Chora

          2/11/2025

sábado, 29 de novembro de 2025

NATÉRCIA

 

 

Natércia é mulher

por meia Lisboa amada,

bronzeada pelo sol

e acariciada pelo vento,

que o seu aroma a canela

pela cidade espalha.

É jovem e é dada,

a todos beija, das crianças

aos velhos babados.

O seu por de pé é elegante,

o seu trato um encanto.

O seu aroma cativa a outra metade de Lisboa,

recordando o arroz-doce,

os deliciosos biscoitos de canela

e o maravilhoso bolo de maçã e canela.

Todos gostam dela, dourada pelo sol,

de sardas por Deus distribuídas,

recordado o seu aroma os cheiros d’outrora,

e os d’agora, a que Lisboa também se rende,

como aos pastéis de Belém.

            Jorge C. Chora

               29/11/2025

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

PROGRAMA PARA HOJE

 

PROGAMA PARA HOJE

Hoje não estou para ninguém.

Vou procurar o sol,

esteja ele onde estiver,

escondido

 ou armado em foragido,

encontrá-lo-ei

e não

 vou simplesmente cumprimentá-lo,

vou prolongar a conversa,

de modo a sair quente e satisfeito,

quer ele queira ou não.

           Jorge C. Chora

           28/11/2025

terça-feira, 25 de novembro de 2025

ORAÇÃO


Apontai-nos Senhor,

por favor,

uma terra onde os sorrisos

possam florescer livres,

como as searas ao vento,

 e o pão saboreado,

sem que ninguém seja despedaçado

no berço ou na sua cama,

dormindo ou fazendo amor.

Apontai-nos Senhor,

por favor,

uma terra onde os poderosos

do crime e das chacinas,

sejam impedidos de entrar,

e sejam julgados e condenados

por cada uma das crianças, mães,

pais e avós assassinados sem culpa

e sem dó.

Apontai-nos Senhor,

por favor,

uma terra onde a solidariedade impere

e só os injustiçados,

vivam em paz e consigam livrar-se dos pesadelos,

se amem e reproduzam em paz e sossego,

povoando a terra de gente simples,

sem instintos de poder e subjugação dos seus irmãos.

Apontai-nos Senhor,

por favor,

uma terra onde o corpo humano,

por Vós criado,

não seja visto como ofensivo,

mas amado e por todos visto e respeitado

e não com o algo que se esconde e tapa,

como um vil e asqueroso excremento,

que fede e de todos se deve esconder,

desdizendo e emporcalhando a Vossa própria obra.

Por favor, Senhor…

                   Jorge C. Chora

                   25/11/2025

sábado, 22 de novembro de 2025

UM BEIJO É

 

UM BEIJO É

Uma bênção.

Uma carta de amor

não escrita,

mas gravada nos lábios

do ser amado,

no qual confessa,

tudo o que por escrito

foi incapaz de dizer.

    Jorge C. Chora

     22/11/2025

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

A COMPANHEIRA DOS MEUS OLHOS

 

Nos meus olhos vives,

seja noite ou dia,

a povoá-los de alegria

e da minha razão de ser.

Oxalá nunca te perca de vista,

nunca de mim escondas,

sabendo tu,

o mal que me causarias,

se de tal maldade te lembrasses,

pois de tristeza morreria!

        Jorge C. Chora

      21/11/2025

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

A SENHORA QUE SOFRIA DE AEROFAGIA

 

Nasceu enorme e ainda maior se tornou, ao crescer e ao chegar à idade adulta.

Sofria de aerofagia e não conseguia passar despercebida, mesmo que quisesse.

Na rua onde morava, com o passar dos anos e a morte de muitos dos comerciantes idosos que ali exerciam o seu ofício, as lojas foram sendo ocupadas por comerciantes de várias proveniências, tais como:  chineses, paquistaneses, passando por indianos e africanos de várias proveniências.

A senhora envergonhava-se dos flatos sonoros que dava ao passar pelas suas portas. Os comerciantes olhavam-na de lado, atribuindo o facto ao desprezo que ela por eles tinha.

Delicada como era, decidiu explicar-lhes a sua doença, embora muito envergonhada. Chegou a propor-lhes aprender o início de uma canção de que gostassem e ela esforçar-se-ia por reproduzir alguns desses sons.

- Não é preciso, minha senhora. Não faça isso, pois ficaria mais tempo à nossa porta e seria mais notada!

- Têm razão, peço desculpa.

- Pode é fazer-nos um grande favor…

-Digam, se eu puder …

-Ali, aquela sede política cujos membros nos insultam todos os dias e todos os dias nos criam problemas, é que podia mudar-se para outro local se fosse possível…

-Como?

- Se a senhora fizesse todos os dias os seus telefonemas, o mais demorados possíveis, à sua porta e ali permanecesse até conseguir fazê-los todos…

- Percebi…

Dois meses depois a sede mudou-se.

A partir dessa altura a senhora passou a ter desconto em todas as lojas da rua. Ninguém mais se incomodou com os sonoros flatos, até porque eram só sonoros e quase nada fedorentos.

   Jorge C. Chora

20/11/2025