À volta de uma mesa, os pescadores do clube discutiam
quem tinha apanhado o maior peixe no Tejo.
-Fui eu!- gritaram em uníssono os três amadores.
Esmiuçada a questão, cada um deles enunciou as
características do peixe que, segundo eles, era maior e mais pesado do que o
dos outros:
-O meu tinha uns dez quilos e um metro e meio de
comprimento! – garantiu o “Truta”.
-Logo vi…isso não é nada ao pé do que eu
pesquei…tinha uns vinte quilos e para aí uns dois metros… - afiançou o “Barbo”.
-Isso é que vocês são uns convencidos! O que eu
pesquei, juro a pés juntos, pesava quase a soma dos vossos e, em comprimento,
não sei se não teria também a soma de
ambos… - assegurou o “Achigã”.
A neta do “Boga”, que por acaso estava presente e
assistiu à discussão, pediu desculpa e disse:
-As vossas proezas são decerto verdadeiras, mas sei
de uma pescaria que ficou nos anais da História. Um só peixe era do dobro do
tamanho da soma dos maiores peixes que os senhores alguma vez pescaram.
-Não percebemos nada do que estás para aí a dizer.
Se não te importas explica lá isso bem explicado. Estás a dizer-nos que os
nossos maiores peixes, todos somados, não chegam a ser metade de um?
-Exactamente! – assentiu a neta do “Boga”- Querem
apostar?
-Tudo o que queiras! – berraram ofendidos os
pescadores.
-Quero pouca coisa…bastam-me os peixes que pescaram
hoje.
-Apostado! E se perderes, pagas e grelhas os peixes que aqui temos, para todos
os sócios. – desafiaram os pescadores.
-De acordo. Mais do que isso, se ganhar, também
ofereço o peixe a todos os presentes mas são vocês a grelhá-lo.
A neta do “Boga” abre a pasta que trazia, retira
muito devagar um livrinho preto e pede aos apostadores:
-Abram-no na página 15, sentem-se e leiam-na
calmamente.
Assim fizeram.
Entretanto, dezenas de sócios tinham cercado o grupo
e esperavam para saber quem a ganharia a aposta.
- Leiam-na alto, se não se importam, uma vez que temos
aqui muitos interessados na disputa. – propôs a jovem.
À medida que liam, iam ficando vermelhos e chegaram
a uma altura que ficaram roxos ao lerem que “D. Guedelha, rabi-mor dos judeus,
apresentou ao monarca um solho vivo apanhado no Tejo, que surpreendeu tudo e
todos pela suas descomunais proporções, pois o peixe …media17 palmos “de largo”
e sete “de grosso”, pesando 17,5 arrobas”pelos pesos de Santarém”.
-E tudo aconteceu no dia 5 de Fevereiro de 1321,uma
quinta-feira, dia de Santa Águeda, tal como reza o livro “Documentos de D.
Dinis na Torre do Tombo”… - concluiu Marta, com um sorriso de vitória.
Ainda não tinham deglutido a perda da aposta e já
ouviam o convite das testemunhas presentes:
-Toca a assar os peixinhos, que a fome aperta e são
horas do almoço!
Jorge C. Chora
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