sábado, 7 de novembro de 2015

OS ENJOOS DO VIGÁRIO


Sebastião era o vigário de uma pequena vila, cujos habitantes se benziam à sua aproximação. Não era santo nem milagreiro e muito menos a encarnação do demo. Então por que reagiam assim os seus paroquianos?

O padre tinha de prestar os seus serviços em diversas aldeias do concelho, mas havia algo inultrapassável: enjoava ao andar de carro.

Ao seu serviço tinha um velho jipe que conduzia pelas ruas estreitas das aldeias. À medida que conduzia, ia vomitando, conspurcando a batina com pedaços das refeições, agarrado ao volante, como se conduzisse um zepelim. Nunca recusou assistência a ninguém, nem a nenhum dos povoados. Sempre que alguém se cruzava com ele na estrada, benzia-se e saía do caminho, o mais rápido possível, esperando sobreviver ao encontro.

Quando entrava na vila, os habitantes apressavam-se a esconder-se onde podiam. Um visitante estranhou o comportamento dos locais, nomeadamente as fugas e a procura aflitiva de esconderijos, quando o cura surgia ao fundo da rua a conduzir o “tanque de guerra”.

- Ninguém me diz o que se passa? – gritou o incauto.

-Esconda-se…depressa…

E o “turista” agachou-se atrás de um contraforte, mesmo a tempo de ver uma parte do apoio do edifício ser arrancada pelo jipe, com o vigário ao volante a vomitar a batina.

Depois de muito discutir, a população que tinha o maior respeito pelo vigário, achou a solução: falar ao sacristão e convencê-lo a telefonar aos bombeiros, sempre que o reverendo saia, informando-os da hora do seu previsível regresso.

Desde essa época, sempre que ele saia e a sirene tocava, o vigário reclamava:

-Deus me perdoe, mas estes bombeiros contraíram o vício de ligar a sirene! Ainda por cima não há vivalma nas ruas! Terra tão estranha como esta nunca conheci…Perdoe-lhes Senhor que eles não sabem o que fazem!

Jorge C. Chora


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