domingo, 8 de abril de 2018

OS AFRANCESADOS


  Em tempos que já lá vão, muitos achavam que, só o que era estrangeiro era bom. Na época, a língua francesa ainda estava na moda, assim como a cultura e os produtos da mesma origem.
Uma boa parte dos nacionais tinha familiares a trabalharem naquele país e diziam à boca cheia:

-Tenho inúmeros familiares a viverem em Paris…vivem lá há imenso tempo…numa casa apalaçada…

O que se esqueciam de dizer era que a casa, era dos patrões…adiante, pormenores de pequena monta.
Nabo e Coelho, velhos conhecidos, trabalhavam na restauração e achavam que os seus nomes não lhes traziam uma importância por aí além e resolveram afrancesar-se.
O senhor Nabo baptizou-se como monsieur Nabeais e o outro como monsieur Lapin.
Montaram um restaurante” trés chic”:  Nabeais et Lapin. A ementa, de acordo com as boas regras, era escrita em francês, em letras garrafais, e em português, em letrinhas minúsculas.
O Cenoura, colega de escola de ambos, ao descobrir os novos nomes dos antigos condiscípulos, resolveu divertir-se às suas custas. Irrompeu no restaurante, mas quando se preparava para abrir as goelas, verificou que os amigos se encontravam rodeados por várias senhoras. Parou, indeciso, e foi visto pelos afrancesados que exclamaram:

-Amigo Carotte, há quanto tempo não nos víamos. - e voltaram-se para as senhoras e apresentaram-no formalmente -O nosso amigo de longa data, monsieur Carotte …

E o Cenoura, após as apresentações, honrando o reencontro:

-Há quanto tempo não nos víamos meus bons amigos Nabeais e Lapin… que saudades daqueles tempos em que degustávamos coelho com nabos e cenouras….

Jorge C. Chora
   8/4/2018




Sem comentários:

Enviar um comentário