Sonhava ser magro e alto, muito alto, altíssimo. A meio do sonho, lá das alturas, olhou para baixo, teve uma vertigem e caiu.
Meio a dormir, palpou-se, respirou fundo e suspirou: estava na mesma, continuava baixo, gordo, e a separá-lo do chão, não havia senão a pequena distância que ia da sua cabeça aos pés.
- Ainda bem que não sou alto! -disse para si próprio, em voz alta.
O despertar súbito causou-lhe fome. Em cima da mesa estava uma banana. Dividiu-a em três partes, rigorosamente iguais, separou uma para si e as outras duas para a sua amada. Ela merecia muito mais do que ele, pelo menos o dobro de si e a exatidão era consigo: duas para ela, uma para si. Ela, a amada, era mais inteligente, mais trabalhadora, mais meiga, tudo mais do que ele, com exceção do amor que lhe dedicava, que a bem da verdade, não podia ser maior do que o seu por ela.
E quando ao entrar em casa, viu a sua mais-que-tudo, nua e dourada, com os braços abertos e o vizinho a correr para os seus braços, deu-lhe uma vertigem e caiu redondo ao chão.
Ao acordar, pediu desculpa à sua adorada, por tê-la imaginado toda nua a entregar-se ao vizinho.
- Ó querido essas tuas vertigens dão cabo de ti!- e abraçou-o, aconchegando-o aos seus seios nus, enquanto o vizinho escapulia casa e jardim fora.
Jorge C. Chora
17/8/2021
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