O frenesim das sirenes escutava-se ao longe. Segundos depois, em plena avenida, os sons estridentes rasgaram a relativa pacatez da avenida. Potentes motas, conduzidas por experientes batedores, engoliam quilómetros, precedidas por oito viaturas topo de gama.
Às vinte e três horas em ponto, os portões do nº 13 abriram-se por breves momentos. Uma chiadeira de pneus e um cheiro a borracha queimada espalharam-se pelo ambiente. As viaturas foram como que engolidas e os portões fecharam-se, impedindo qualquer visão para o interior.
A reunião estava aprazada para daí a quinze minutos. Os dirigentes tomaram assento e procedeu-se à leitura do único ponto da ordem de trabalhos:
”Em tempo de crise, como poupar dinheiro com as reformas dos velhos e quejandos?”
A discussão iniciou-se. Havia um acordo prévio quanto à premência do problema. Tratava-se agora de definir a estratégia que levasse a uma redução drástica das mesmas.
Foram várias as ideias apresentadas, todas elas já ventiladas, como sejam as de só assegurarem uma parte pelo estado e a outra pelos negócios privados, a existência de limites…enfim o “dejá vue”.
-“Adelante …Adelante… “ – comandava o dirigente-mor, ansioso para que surgisse algo de novo, tentando apressar a discussão, revelando a impaciência herdada de uma longínqua bisavó castelhana.
-Se me permitem… - iniciou um jovem dirigente – fungando e aclarando a voz.
-Permitimos tudo. Desembuche e deixe-se de salamaleques. – cortou o bisneto da espanhola.
-Então digo… a estratégia é conseguirmos convencer o “povo” de que receber uma reforma faz mal à saúde das pessoas…
-Como assim?- questionaram interessados os presentes – convencermos a população de que a atitude correcta e mais saudável é não receber nenhuma reforma?
-Exactamente isso. Divulgarmos quantos morrem logo que se reformam… iniciarmos uma campanha…
Uma ovação impediu o orador de continuar. A estratégia,”grosso modo”, estava achada. A assembleia propôs que o autor da ideia fosse louvado e premiado com três reformas vitalícias que vigorassem de imediato: A primeira ser-lhe-ia atribuída pela originalidade da ideia; a segunda pela poupança que iria desencadear; a terceira pelo fomento de uma política social saudável.
Jorge C. Chora
sábado, 2 de julho de 2011
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Grande Jorge,
ResponderEliminarSempre em cima do acontecimento!
Um abraço