terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O Trambolho


Nasceu raquítico. Temeu-se pela sua vida. Levaram-no à bruxa, que se apressou a desencadear defumadouros e rezas contra quebrantos e maus-olhados. Foram invocados santos, santinhos, santarrões e até o sol e a lua.

Em desespero de causa, a mulher preparou uma poção com ingredientes secretos (os segredos viriam mais tarde a ser violados e divulgados por concorrentes menos escrupulosas). Quando ela a preparava, tropeçou sem querer no caldeirão e derramou uma enorme quantidade do ingrediente sobre o sexo do petiz.

“Aqui d`el rei”, gritou a mulher em aflição, desatando em benzeduras que pudessem limitar o efeito de crescimento da poção. A mãe e a bruxa, apavoradas, viram crescer, desmesuradamente, aquilo com que se assegura a prole.

Ao chegar à adolescência, usou o tamanho do” apêndice” como um atributo para alavancar o seu sucesso junto às amadas, e foram elas que ao bichanarem o seu segredo, consolidaram a sua fama.

Em tudo resto o rapaz era uma nódoa. A bruxa já tinha advertido a progenitora de que o seu rebento procuraria por todos os meios satisfazer a sua luxúria sem se preocupar com ninguém. Quando um dia a mãe a informou de que o filho trouxera para casa uma ficha de inscrição num partido político, a bruxa deitou as mãos à cabeça e perguntou-lhe:

-E o que é que fez?

-Escondia-a e acabei por rasgá-la…

-Abençoada…é menos um em cima de nós!

Jorge C. Chora

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