quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O cesto ou a pescadinha de rabo na boca

                                                 
A carrinha parou em frente à habitação. Três homens engravatados saíram carregando um pequeno cesto com frutas. Tocaram à porta e entregaram-no. Um cartão acompanhava a dádiva, com uma mensagem que dizia:” Na situação em que estão, é preciso que elas durem. O segredo está na poupança.”

A família deu graças a Deus. Logo ali prometeram que ninguém ultrapassaria os limites.

À mesa cada pessoa comia uma e só uma peça de fruta. Por vezes, cortavam um bocado e esse pedaço servia de lanche. E pouparam, e o cesto durou, durou…

Ao fim de algum tempo, quando todos tinham tirado o seu quinhão do dia, ao abrirem a fruta para a comerem, verificaram, consternados, que ela não podia ser consumida por ter apodrecido.

Correram para o cesto e, surpresos, constataram que, das poucas que sobravam, não havia uma que se aproveitasse.

Quando um amigo da família chegou e viu o que se passava, perguntou:

- Porque não fizeram doce, antes que se estragassem? Era só barrar os “croissants” e aproveitavam tudo…

-“Croissants”?

E a família, em silêncio, colheu as sementes e decidiu semeá-las num pequeno vaso.

Dias depois, os mesmos três homens, entregaram outra missiva:

“Prezados Senhores,
Esperamos que tenham correspondido ao investimento que fizemos na vossa família. Depreendemos que os senhores tiveram o cuidado de guardar e semear os caroços das frutas que vos foram cedidas.

Prevendo nós uma grande colheita daqui a quatro anos, tomámos a liberdade de contratualizar a percentagem das frutas que nos deverão entregar enquanto investidores. É justo que recebamos, por cada peça de fruta que investimos, pelo menos dez, por cada ano que passou.

Caso não consigam cumprir os prazos, por cada mês vencido, deverá ser entregue pelo menos mais uma peça, a acrescentar ao número anteriormente definido.

Os lucros obtidos, devem ser investidos na compra de quintas, ficando como garantia do nosso investimento, em nosso nome, pelo menos quarenta por cento do valor das mesmas.

A equipa que vos está a entregar esta mensagem, tem autorização para vos entregar uma segundo cesto de frutas, caso se comprometam a respeitar o clausulado aqui expresso.”

Mal acabaram de ler o contrato, caiu uma forte chuvada, que derrubou o vaso e arrastou as sementes.

-Nem tudo está perdido! Ainda temos um cesto no carro e um compromisso para assinar… - exclamaram os três homens, estendendo os papéis aos futuros proprietários.

A família saiu a correr para uma instituição de crédito, para pedir um empréstimo para comprar uma quinta.

O problema foi quando a família descobriu que quem”oferecia a fruta” era a própria instituição de crédito.

“Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, disseram enquanto se benziam e fugiam a sete pés. O mais velho da comunidade, apoiado num cajado, coxeando, até o latim recordou enquanto dava ao pé:”In nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti”

Até hoje, mais ninguém os viu.


Jorge C. Chora

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