Sempre que João telefonava a Ambrósio, para ver se
recuperava o dinheiro que este lhe devia, a resposta era a mesma:
-Amigo João, estou bem longe…mais propriamente em
Braga…quando regressar falamos…gostei de o ouvir – E desligava o telefone.
Um destes dias, João viu Ambrósio, numa cervejaria em
Lisboa. Telefonou-lhe e Ambrósio fez-lhe o favor de atendê-lo:
-Amigo João, como vai? Não me esqueci de si…neste momento
estou no centro de Albufeira…
-Ambrósio, meu amigo dilecto, vem mesmo a calhar, também
estou em Albufeira e vou já ter consigo…
-Oh! Que pena…apanhou-me mesmo de saída…vemo-nos em Lisboa.
Colado ao vidro da cervejaria, João viu Ambrósio colocar o
telemóvel no bolso do casaco e esboçar um sorriso de desdém. Entrou e
dirigiu-se-lhe directamente:
-Com que então amigo Ambrósio, para quem há uns minutos
ainda estava em Albufeira, conseguir chegar aqui, só pode ser um milagre…
-Pode crer João…ainda há poucos segundos guardei as asas ali,
naquele saco, encostado à mesa…
João sentiu um calor subir-lhe às faces. Deu três passos,
agarrou no saco, mas não teve tempo de mais nada. Foi violentamente agarrado
por quatro homens que o sacudiram e lhe gritaram:
-Seu descarado… a roubar-nos debaixo do nosso nariz. Ora
toma.
Depois de levar umas boas sacudidelas, deram-lhe a
possibilidade de explicar o que se passara. Quando chegou à parte das asas, a
cena repetiu-se:
-Ainda gozas, ora espera …-E tornaram a prodigalizar-lhe uns safanões.
Ambrósio evaporou-se.
Ninguém mais o viu. Hoje em dia, mal João entra num restaurante, cervejaria ou café
onde o devedor costumava ir, ouve, sem ter perguntado nada a ninguém:
-O Ambrósio ainda aqui não aterrou!
Jorge C. Chora
Sem comentários:
Enviar um comentário