Fez-se um silêncio súbito na assembleia. O orador deixou de
ser apupado. Centenas de pessoas presentes escutaram sons estranhos vindos, não
sabiam se de longe se de perto, nem de onde. Escureceu. De repente levantou-se
uma enorme ventania. Voaram cadeiras, papéis, mesas, pessoas e o orador que
estava a ser objecto das vaias.
A muitos quilómetros deste local, numa outra reunião, o
lugar da presidência estava vago. Eis que do céu caiu, no dito espaço, o orador
voador vindo de nenhures. À sua frente tinha um microfone e na mão cinco
pequenos papéis que apanhara no ar. Refez-se do baque e falou assim:
-Meu bom povo. Dispenso-me das saudações e agradecimentos
iniciais que todos vós sabeis quais são. O que prometo, cumpro. -E vendo que do
céu caíam peixes, continuou - Começo por vos oferecer uma abundante refeição
gratuita, pese embora, me tenha custado uma fortuna.
Uma estrondosa ovação interrompeu o discurso. Com um ar
compungido acenou, com ambos os braços, como se estivesse a ordenar o pouso de
uma ave, que se fizesse silêncio.
Pegou nos papéis e leu as vinte promessas, quatro por cada
papel que tinha na mão e recolhera ao acaso.
O espanto percorreu a assistência e a energia do orador teve
o condão de a electrizar.
-O estranho ao poder! – gritaram, entusiasmados, os fãs instantâneos.
-Aceito, bom povo, a vossa vontade soberana e esclarecida.
Retiro-me agora para os meus aposentos, se tiverem a bondade de me indicarem
onde são.
E a multidão, acompanhou o novo governante ao palácio. Mesmo
antes de se instalar, escreveu um bilhete e colocou-o num envelope lacrado. A
carta rezava assim:
Amigos,
Estou de novo instalado. Dou-vos a nova direcção.
Apressem-se. Quando chegarem terão de novo tudo o que perderam nesse local maldito.
O governador,
DIGOQUEFAÇOESÓFAÇOAOSAMIGOS
Jorge C. Chora
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