sábado, 6 de junho de 2015

O HOMEM DE NENHURES QUE ERA DE ALGURES


Fez-se um silêncio súbito na assembleia. O orador deixou de ser apupado. Centenas de pessoas presentes escutaram sons estranhos vindos, não sabiam se de longe se de perto, nem de onde. Escureceu. De repente levantou-se uma enorme ventania. Voaram cadeiras, papéis, mesas, pessoas e o orador que estava a ser objecto das vaias.

A muitos quilómetros deste local, numa outra reunião, o lugar da presidência estava vago. Eis que do céu caiu, no dito espaço, o orador voador vindo de nenhures. À sua frente tinha um microfone e na mão cinco pequenos papéis que apanhara no ar. Refez-se do baque e falou assim:

-Meu bom povo. Dispenso-me das saudações e agradecimentos iniciais que todos vós sabeis quais são. O que prometo, cumpro. -E vendo que do céu caíam peixes, continuou - Começo por vos oferecer uma abundante refeição gratuita, pese embora, me tenha custado uma fortuna.

Uma estrondosa ovação interrompeu o discurso. Com um ar compungido acenou, com ambos os braços, como se estivesse a ordenar o pouso de uma ave, que se fizesse silêncio.

Pegou nos papéis e leu as vinte promessas, quatro por cada papel que tinha na mão e recolhera ao acaso.

O espanto percorreu a assistência e a energia do orador teve o condão de a electrizar.

-O estranho ao poder! – gritaram,  entusiasmados, os fãs instantâneos.

-Aceito, bom povo, a vossa vontade soberana e esclarecida. Retiro-me agora para os meus aposentos, se tiverem a bondade de me indicarem onde são.

E a multidão, acompanhou o novo governante ao palácio. Mesmo antes de se instalar, escreveu um bilhete e colocou-o num envelope lacrado. A carta rezava assim:

Amigos,
Estou de novo instalado. Dou-vos a nova direcção. Apressem-se. Quando chegarem terão de novo tudo o que perderam nesse local maldito.

O governador,

DIGOQUEFAÇOESÓFAÇOAOSAMIGOS


Jorge C. Chora




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