segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O FADO CACAREJADO

                                                      

Na feira de antiguidades, um senhor de grandes bigodes, examinava os objectos da banca onde se encontrava, com um detalhe e uma morosidade exasperante.

O vendedor, de modo educado, ia respondendo às questões, a um ritmo frenético, que o cliente lhe ia pondo, da melhor maneira que lhe era possível.

Depois de mexer, remexer e examinar praticamente tudo o que havia, pegou numa pequena estatueta metálica, representando um galo. Deu-lhe o mesmo tratamento que tinha dispensado às peças anteriores, com a particularidade de a encostar ao ouvido, primeiro o esquerdo e a seguir o outro.

-A peça é portuguesa?

-Sim. Comprei-a como tal...

E o senhor, tornou a encosta-la às orelhas e a sacudi-la com um ar de caso.

-Pois olhe, se eu descubro que ele canta em chinês, pode ter a certeza que venho cá devolvê-lo…  - advertiu o comprador.

- E se ele por acaso cantar em japonês ou em tailandês? -perguntou divertido o vendedor.

-Nada feito…se ele cantar, só aceito em português legítimo, de preferência em ritmo de fado cacarejado!

Nestas feiras aparece cada maduro!


Jorge C. Chora

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