Transportava a fruteira de cristal, encostada ao peito e
segura com ambas as mãos. Estava na sua família há muitos anos. Era como que
uma jóia, cuidada e transmitida de antepassado em antepassado. Podia dizer-se
que o objecto era o único de valor em sua casa.
João, de dez anos, transportava-a a pedido de sua mãe, a
caminho da casa de penhores. Já com a mãe à vista, esta acenou-lhe e
sorriu-lhe, com o coração nas mãos, pois se havia pessoas desastradas e
azaradas, João era seguramente um deles. O estabelecimento fechava daí a dez
minutos. Acelerou o passo e a progenitora receou que João tropeçasse, que
viesse alguém e lha roubasse ou algo do género. E foi com os olhos abertos que
viu concretizar-se o seu receio.
Viu a fruteira estilhaçar-se no passeio e não percebeu o
sucedido. Ouviu-se uma travagem e viu o João com uma criança de dois anos ao
colo. Acabara de salvá-la de ser atropelada. O pequeno saíra a correr de uma
loja, vizinha da de penhores.
-Desculpa-me mãe…
-Não tens de desculpar-te, salvaste aquele pequenino … - e,
comovida, abraçou o João.
Sem o dinheiro da renda na mão, ouviram o comentário do
funcionário da agência:
-Que historieta é que me vão contar?
Jorge C. Chora
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