sábado, 1 de julho de 2017

O DESANIMADO



Três vezes consecutivas olhou para o relógio. Um minuto depois, olhou-o de novo. Era quase meio-dia e todos os dias era assim. O reformado desabafou:

-Está quase na hora do sacrifício…

-Como assim? - questionaram alguns conhecidos que nunca tinham percebido o motivo da agitação àquela hora.

- São horas de almoço e espera-me uma panela de massa que ando a comer há três dias…

-Mas, por que não faz menos?

-Não sei controlar as doses…desde que a minha santa morreu … ando nisto… se ao menos tivesse companhia, ajudava-me a comer…

-E qual é o problema em arranjar companhia?

-Sabem lá vossemecês! Já desisti. As três primeiras com que contactei, perguntaram-me quanto tinha de reforma, se tinha carro, casa de praia, qual o montante de depósito bancário e que países costumava visitar nas férias!

- E desistiu?

-Não, o pior estava para vir. A única de que gostei e me atraía, foi um balde de água fria. Era mesmo interessante e tão atraente era que até me passou pela cabeça dar-lhe um leve toque no rabinho…

-E… -incentivaram os ouvintes, curiosos.

-Não me largou. Contou-me tantas, mas tantas desgraças …até que finalizou com um pedido:
precisava com urgência de cinquenta mil euros!

-E?

-Não vos conto mais nada. Só vos digo que, para mim, a busca de companheira é coisa do passado: não quero nenhuma.

Uma idosa que estava no bar, franziu o sobrolho e desabafou:

-E eu que não me importava de ser cozinheira…sobra-lhe alguma coisa no banco?


Jorge C. Chora

Sem comentários:

Enviar um comentário