Três vezes consecutivas olhou para o relógio. Um minuto
depois, olhou-o de novo. Era quase meio-dia e todos os dias era assim. O
reformado desabafou:
-Está quase na hora do sacrifício…
-Como assim? - questionaram alguns conhecidos que nunca
tinham percebido o motivo da agitação àquela hora.
- São horas de almoço e espera-me uma panela de massa que
ando a comer há três dias…
-Mas, por que não faz menos?
-Não sei controlar as doses…desde que a minha santa morreu …
ando nisto… se ao menos tivesse companhia, ajudava-me a comer…
-E qual é o problema em arranjar companhia?
-Sabem lá vossemecês! Já desisti. As três primeiras com que
contactei, perguntaram-me quanto tinha de reforma, se tinha carro, casa de praia,
qual o montante de depósito bancário e que países costumava visitar nas férias!
- E desistiu?
-Não, o pior estava para vir. A única de que gostei e me
atraía, foi um balde de água fria. Era mesmo interessante e tão atraente era
que até me passou pela cabeça dar-lhe um leve toque no rabinho…
-E… -incentivaram os ouvintes, curiosos.
-Não me largou. Contou-me tantas, mas tantas desgraças …até
que finalizou com um pedido:
precisava com urgência de cinquenta mil euros!
-E?
-Não vos conto mais nada. Só vos digo que, para mim, a busca
de companheira é coisa do passado: não quero nenhuma.
Uma idosa que estava no bar, franziu o sobrolho e desabafou:
-E eu que não me importava de ser cozinheira…sobra-lhe
alguma coisa no banco?
Jorge C. Chora
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