“A Mais Velha”, assim era conhecida pela miudagem do bairro,
parecia não conseguir andar, mas o certo é que colocava um pé a seguir ao
outro. Quem estivesse atento e tivesse algum tempo, percebia que ela, embora
lentamente, progredia.
Houve quem reparasse, que para além da peculiar marcha da”
Mais Velha”, que ela transportava, todos os dias, uma pequena jarra de plástico,
com água.
Demorava uma eternidade a atravessar a rua. Impacientes com
a demora, os condutores buzinavam. Ela levantava a mão e pedia desculpa. Quando
repetiam as buzinadelas, ela sorria e murmurava: oxalá chegues à minha idade …
Chegada ao passeio que dividia a faixa de rodagem, deitava
os pingos de água que tinham sobejado após a atribulada travessia, numa pequena
clareira onde nem sequer havia uma flor.
Curiosos com a persistente acção da “Mais Velha”, resolveram
um dia ver o que ela tanto regava e a surpresa estampou-se-lhes no rosto: a
senhora não estava boa da cabeça!
No dia seguinte, ela fez-lhes sinal para que se
aproximassem. Receosos, acabaram por aceder ao pedido.
- Estão surpresos por eu estar a regar um local sem nada? Se
me ajudarem acabarão por ver ali nascer uma árvore que dará frutos. De que
frutos gostam mais?
E fartaram-se de discutir e concluíram que a maior parte
gostava de pêssegos.
-Pois meus amigos, nem é tarde nem é cedo, basta que me
ajudem a regar e ali nascerá um pessegueiro, pois os vossos desejos são ordens
para mim -e sorriu, porque lá tinha semeado caroços de uns belos pêssegos que
comera.
E quando o pessegueiro nasceu e surgiram os primeiros
pêssegos, a “Mais Velha” foi considerada um prodígio da natureza.
Jorge C. Chora
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