terça-feira, 22 de agosto de 2017

A SEMENTE DA "MAIS VELHA"


“A Mais Velha”, assim era conhecida pela miudagem do bairro, parecia não conseguir andar, mas o certo é que colocava um pé a seguir ao outro. Quem estivesse atento e tivesse algum tempo, percebia que ela, embora lentamente, progredia.

Houve quem reparasse, que para além da peculiar marcha da” Mais Velha”, que ela transportava, todos os dias, uma pequena jarra de plástico, com água.

Demorava uma eternidade a atravessar a rua. Impacientes com a demora, os condutores buzinavam. Ela levantava a mão e pedia desculpa. Quando repetiam as buzinadelas, ela sorria e murmurava: oxalá chegues à minha idade …

Chegada ao passeio que dividia a faixa de rodagem, deitava os pingos de água que tinham sobejado após a atribulada travessia, numa pequena clareira onde nem sequer havia uma flor.

Curiosos com a persistente acção da “Mais Velha”, resolveram um dia ver o que ela tanto regava e a surpresa estampou-se-lhes no rosto: a senhora não estava boa da cabeça!

No dia seguinte, ela fez-lhes sinal para que se aproximassem. Receosos, acabaram por aceder ao pedido.

- Estão surpresos por eu estar a regar um local sem nada? Se me ajudarem acabarão por ver ali nascer uma árvore que dará frutos. De que frutos gostam mais?

E fartaram-se de discutir e concluíram que a maior parte gostava de pêssegos.

-Pois meus amigos, nem é tarde nem é cedo, basta que me ajudem a regar e ali nascerá um pessegueiro, pois os vossos desejos são ordens para mim -e sorriu, porque lá tinha semeado caroços de uns belos pêssegos que comera.

E quando o pessegueiro nasceu e surgiram os primeiros pêssegos, a “Mais Velha” foi considerada um prodígio da natureza.


Jorge C. Chora

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