O “Abatanado” sorri de modo triste. Os seus óculos à
aviador, com a lente direita fragmentada, semelhante a uma teia de aranha, deixam
ver os olhos que denotam uma ausência de alegria, um conformismo forçado.
Roubaram-lhe a bicicleta, companheira inseparável das
travessias das ruas e avenidas em alta velocidade, de rádio a tiracolo e imaginação
galopante, dançando em duas rodas, prenúncio de outras danças que efectua apeado,
acompanhado pelo som que rompe e se
metamorfoseia em estonteantes giros e contorções rítmicas.
Roubaram-lhe a sua fiel companheira e queixa-se, em
voz baixa e sentida:
-São uns bandidos! O que faço sem ela…
Pela tardinha revejo o “Abatanado”, em alta velocidade,
numa bicicleta pequena, muito pequenina, com um grande sorriso estampado e
música que jorra do rádio em forma de tubo, que aperta no sovaco.
- Ela não é muito pequena para ti? - perguntam-lhe.
-É verdade… mas assim sinto-me grande! Tenho de lhe
colocar um assento mais alto e fica tudo bem…
E o Abatanado torna a sorrir, usufruindo da sua
grandeza, resultante do contraste entre o seu tamanho e o da sua nova
bicicleta.
-Agora sou um homem grande! – e sorri feliz, o Rafael
que todos conhecem com “Abatanado”.
Jorge C. Chora
13/2/2018
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