terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

HOMEM GRANDE



O “Abatanado” sorri de modo triste. Os seus óculos à aviador, com a lente direita fragmentada, semelhante a uma teia de aranha, deixam ver os olhos que denotam uma ausência de alegria, um conformismo forçado.

Roubaram-lhe a bicicleta, companheira inseparável das travessias das ruas e avenidas em alta velocidade, de rádio a tiracolo e imaginação galopante, dançando em duas rodas, prenúncio de outras danças que efectua apeado, acompanhado pelo som  que rompe e se metamorfoseia em estonteantes giros e contorções rítmicas.

Roubaram-lhe a sua fiel companheira e queixa-se, em voz baixa e sentida:

-São uns bandidos! O que faço sem ela…

Pela tardinha revejo o “Abatanado”, em alta velocidade, numa bicicleta pequena, muito pequenina, com um grande sorriso estampado e música que jorra do rádio em forma de tubo, que aperta no sovaco.

- Ela não é muito pequena para ti? - perguntam-lhe.

-É verdade… mas assim sinto-me grande! Tenho de lhe colocar um assento mais alto e fica tudo bem…

E o Abatanado torna a sorrir, usufruindo da sua grandeza, resultante do contraste entre o seu tamanho e o da sua nova bicicleta.

-Agora sou um homem grande! – e sorri feliz, o Rafael que todos conhecem com “Abatanado”.



Jorge C. Chora

 13/2/2018

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