À medida
que se locomove, mexe os lábios e não produz qualquer som. Optou por dizer
palavras inaudíveis, queixas mudas: adivinham-se palavrões cabeludos, nada
ofensivos porque não se ouvem, bastante comedidos porque nada proporcionais às
enormes dores que tem.
Cumprimenta
o senhor que se senta à mesa do canto do café:
-Bom
dia …como passou a noite? - e faz um esgar, tocando nas pernas, na cabeça e no
ombro.
Está
lançada a conversa. Engatilha a história do que padeceu à noite.O
cavalheiro vai assentindo com a cabeça e sorri. Não percebeu praticamente nada
do que a senhora disse, embora saiba que ela se queixa das maleitas de que
sofre. O monólogo tem certa duração: cerca de quinze minutos.
Aguenta
de modo estóico o quarto de hora da praxe. O jornal aguarda a oportunidade de
ser lido.
Na
hora da despedida, a idosa senhora, sorri, quase feliz e confortada e
despede-se:
-Amanhã
também é dia! Cá nos encontraremos …tenha um bom dia.
-Bom
dia minha senhora. Cá nos encontraremos…
E
o jornal, cansado de esperar, quase se abre sozinho, esparramando-se por cima
da chávena de café gelada.
Jorge
C. Chora
7/2/2018
Sem comentários:
Enviar um comentário