domingo, 6 de maio de 2018

O LARÁPIO E O ESFOMEADO



Sentou-se à porta do supermercado e tirou do bolso uma sandes esborrachada. Com todo o vagar do mundo, retirou o celofane que a embrulhava. Preparava-se para lhe dar a primeira dentada, quando um cão escanzelado e peludo se aproximou. Partiu um bom bocado à sandes e deu-o ao cão.
Ao seu lado, um homem elegante, olhou-o com ar de certo desprezo e de algum nojo.  O jovem sentado sorriu-lhe, embora de testa enrugada, devido à repreensão visível que lhe estava a ser dirigida.

-Eu vi-o a tirar a sandes da prateleira do supermercado. Sei que não a pagou…ao menos não a tivesse desperdiçado e deitado metade fora … mas percebo, foi à borla…

-O senhor acredita, que de barriga cheia, sou tão ou mais moralista do que o senhor? -respondeu-lhe o jovem.

-Se não a tem cheia, rouba e ainda tem a lata de lançar metade fora? Afinal tem ou não tem fome?
-Sim tenho…mas ele também tem… - e apontou o cão.

E o homem, voltou ao ataque:

-Será que não percebe que roubar é indigno e que mesmo com fome isso não se faz?

-Volto a dizer-lhe que de barriga cheia é fácil ser moralista, mas não deixa de ter razão.

O senhor enervou-se. Um ladrão com aquela lábia era demais. Entrou no supermercado e regressou com um segurança. Apontou para o jovem e denunciou-o:

-Roubou uma sandes e não pagou. Ainda por cima deu metade àquele cão sarnento…

E o segurança disse ao denunciante:

-É o dono do supermercado, ou melhor, é o filho do dono do estabelecimento. Está na sua hora de lanche e depois regressa ao escritório.

E o herdeiro do negócio, sem perder a boa disposição pede ao segurança:

- Senhor João, veja se o denunciante tem a factura do perfume que colocou no bolso, pois não o vi pagá-lo, quando passei pela caixa e me vim aqui sentar.

Não tinha!

Jorge C. Chora
   6/5/2018





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