quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

A EXPULSÃO DA BALANÇA BIPOLAR




Contei-vos há tempos uma história sobre a minha balança bipolar. Pela sua estética, brilho e apresentação, fui-lhe tolerando o intolerável: enganava-me a torto e a direito, esfregava-me o ego porque me ia apresentando o peso ideal, logo de seguida desmentido… O que a manteve ao serviço foi a sua deslealdade sabida e lambe-botas, trambiqueira e volúvel.

Fartei-me e deixei-a no lixo, na parte exterior do contentor. Linda, nova e brilhante, vinte minutos após a expulsão, já lá não se encontrava.

Imagino o contentamento, as considerações feitas a propósito do abandono de algo tão perfeito, moderno e útil, feitas por quem a salvou do abandono despropositado de um novo-rico destrambelhado.

Quase me arrependo de a ter deixado no seu estado virginal, pronta a enganar papalvos desejosos de ser enganados. Só consigo redimir-me de semelhante estocada, com o pensamento-desejo de que alguém, tal como eu, deseja(va) ainda ser enganado, ao ver marcado um peso pluma em vez de um, correspondente a um hipopótamo guloso.

Chego à conclusão, que fiz uma maldade, embora sem ser essa a minha intenção, pois só desejava, no íntimo, afagar o ego aos bem-nutridos.

Puxar o lustro ao ego de alguém que não quer enfrentar a verdade, é pecado? Sei a resposta, mas não quero ouvi-la. Passem bem.

Jorge C. Chora
23/01/19

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