Surpreende-me o atrevimento de alguns pássaros, nomeadamente
dos pardais. Afoitos, surripiam o alimento aos pombos e às gaivotas,
infiltrando-se no seio dos bandos, escapulindo ilesos aos bicos dos lesados.
Saltitando às nossas mesas nas esplanadas, fingindo nada
querer, ei-los que partem com o nosso pedaço de pão ou com outro acepipe
qualquer, sem que tenhamos tempo de reagir.
Embora os pombos e as gaivotas façam o mesmo, a surpresa não
é total pois é esperada e estamos de atalaia. Já com os enfezados pardais, pelo
menos comigo é assim, o seu descaramento é de tal modo desavergonhado que me apanham
desprevenido.
Acho graça aos pardais. Os seus comportamentos associam o
descaramento/atrevimento à coragem, porque não são isentos de risco. As suas
acções implicam muitas vezes a possibilidade de não serem bem sucedidas, mas não deixam de ser feitas. Sobrevivência? Sem
dúvida! Mas nada me custa a crer que exista uma aliança entre a curiosidade e o
gosto pelo perigo, uma coragem à flor das penas.
Vem isto a propósito de uma cena que presenciei, há uns
meses, entre um gato e um charneco. Num chão de folhas de eucalipto, estavam
dois charnecos e bem próximo um gato preto. Um terceiro charneco, maior dos que
estavam no solo, ao ver o gato aproximar-se, atirou-se num voo picado ao
felino. O gato desviou-se duas ou três vezes e acabou por se retirar, vigiado
de perto pelo charneco. Sobrevivência? De certeza! Coragem? Sem qualquer
dúvida!
Acredito que o descaramento/atrevimento/sobrevivência, tenha
a coragem como um aliado de peso, pelo menos nos pássaros e na bicharada em
geral, e por que não, no “bicho” Homem
também?
JORGE C. CHORA
13/10/19
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