domingo, 13 de outubro de 2019

O GATO E O CHARNECO


Surpreende-me o atrevimento de alguns pássaros, nomeadamente dos pardais. Afoitos, surripiam o alimento aos pombos e às gaivotas, infiltrando-se no seio dos bandos, escapulindo ilesos aos bicos dos lesados.

Saltitando às nossas mesas nas esplanadas, fingindo nada querer, ei-los que partem com o nosso pedaço de pão ou com outro acepipe qualquer, sem que tenhamos tempo de reagir.

Embora os pombos e as gaivotas façam o mesmo, a surpresa não é total pois é esperada e estamos de atalaia. Já com os enfezados pardais, pelo menos comigo é assim, o seu descaramento é de tal modo desavergonhado que me apanham desprevenido.

Acho graça aos pardais. Os seus comportamentos associam o descaramento/atrevimento à coragem, porque não são isentos de risco. As suas acções implicam muitas vezes a possibilidade de não serem bem sucedidas,  mas não deixam de ser feitas. Sobrevivência? Sem dúvida! Mas nada me custa a crer que exista uma aliança entre a curiosidade e o gosto pelo perigo, uma coragem à flor das penas.

Vem isto a propósito de uma cena que presenciei, há uns meses, entre um gato e um charneco. Num chão de folhas de eucalipto, estavam dois charnecos e bem próximo um gato preto. Um terceiro charneco, maior dos que estavam no solo, ao ver o gato aproximar-se, atirou-se num voo picado ao felino. O gato desviou-se duas ou três vezes e acabou por se retirar, vigiado de perto pelo charneco. Sobrevivência? De certeza! Coragem? Sem qualquer dúvida!

Acredito que o descaramento/atrevimento/sobrevivência, tenha a coragem como um aliado de peso, pelo menos nos pássaros e na bicharada em geral, e por que não, no “bicho” Homem  também?

JORGE C. CHORA
13/10/19

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