domingo, 6 de setembro de 2020

 

 O ARTILHEIRO

O Caramba, o Touro, o Vinhaças, o Trombudo, o Dá Cá Isso, e outros nomes como estes, eram alcunhas ostentadas pela rapaziada da localidade.

Um dos jovens vivia apavorado por ainda não ter uma. Leve como uma pena, de figura insignificante, temia ficar alcunhado como “Enfezado” ou “Raquítico”. Pedia a Deus, embora temesse que mais dia menos dia fosse o que lhe estava destinado, que nenhum dos rapazes tivesse semelhante ideia.

A única coisa que o distinguia dos outros jovens, era o facto de acumular uma grande quantidade de gases, porque comia, quase todos os dias, feijão com um pequeno naco de toucinho.

Um dia descuidou-se, forte e feio, junto aos colegas.

-O que é isso… meu Deus…

-Isso o quê…

-Não te faças de parvo… -reclamaram os outros.

-Então dou-vos a oportunidade de o pintarem de amarelo e ainda reclamam?

-Mau…

E o tiroteio continuou e a cada tiro propunha o atirador:

-Agora pintem-no de azul…  - e acabou, tão intenso foi o tiroteio, por esgotar as cores do arco-íris.

E foi assim que conquistou a alcunha de “Artilheiro” junto à comunidade masculina e ficou conhecido, na feminina, como  o “Fedorento”.

Jorge C. Chora

6/9/2020

 

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