O ARTILHEIRO
O Caramba, o Touro, o Vinhaças, o Trombudo,
o Dá Cá Isso, e outros nomes como estes, eram alcunhas ostentadas pela
rapaziada da localidade.
Um dos jovens vivia apavorado por ainda não
ter uma. Leve como uma pena, de figura insignificante, temia ficar alcunhado
como “Enfezado” ou “Raquítico”. Pedia a Deus, embora temesse que mais dia menos
dia fosse o que lhe estava destinado, que nenhum dos rapazes tivesse semelhante
ideia.
A única coisa que o distinguia dos outros
jovens, era o facto de acumular uma grande quantidade de gases, porque comia,
quase todos os dias, feijão com um pequeno naco de toucinho.
Um dia descuidou-se, forte e feio, junto
aos colegas.
-O que é isso… meu Deus…
-Isso o quê…
-Não te faças de parvo… -reclamaram os
outros.
-Então dou-vos a oportunidade de o pintarem
de amarelo e ainda reclamam?
-Mau…
E o tiroteio continuou e a cada tiro
propunha o atirador:
-Agora pintem-no de azul… - e acabou, tão intenso foi o tiroteio, por
esgotar as cores do arco-íris.
E foi assim que conquistou a alcunha de
“Artilheiro” junto à comunidade masculina e ficou conhecido, na feminina, como o “Fedorento”.
Jorge C. Chora
6/9/2020
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