terça-feira, 6 de julho de 2010

O cheque dentário

Com uma cara de poucos amigos, entrou no café, sentou-se com as costas da cadeira viradas para a frente e ordenou:

-Uma cerveja, um pastel de nata e um rissol.

Bebeu a cerveja e ia a metade do rissol quando desatou aos ais.

-O que é que o senhor tem?-perguntaram os funcionários.

Agarrado à boca, pediu a chave para ir à casa de banho. Saiu logo depois, com um pequeno guardanapo, com uma pintinha de sangue e pediu, numa aflição, um bagaço para desinfectar a boca, pois tinha espetado um osso!

-Um osso? O mais que pode ser é um bocado de camarão! – exclamaram os empregados.

Após” bochechar“ a bagaceira, dirigiu-se ao balcão e intimou:

-Qual de vós me acompanha ao dentista?

-Acompanhar ao dentista?

-Sim…não vêem a minha dor? Chamem uma ambulância…

Os funcionários arregalaram os olhos. Eles que nunca tinham ido ao dentista, estavam a ser solicitados para acompanhar um marmanjão com um dói dói…

-Mas que idade tem o senhor!

Nisto, saí da cozinha o ajudante, homem enorme que trabalhara numa clínica veterinária, cuja secreta ambição era ser dentista, com um facalhão impressionante, todo sorridente, a oferecer-se:

-Quem precisa de um dentista?

O homem, que já desandara sem pagar a conta, criou asas e ainda houve quem ouvisse pela rua fora a sua aflição:

-Olha que o cheque dentário me ia saindo caro!

Jorge C. Chora

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