terça-feira, 13 de julho de 2010

O Sargento Sábio

No tempo da guerra colonial, um jovem estudante de medicina, com a cabeça repleta de heroicidades, comunica à mãe que vai oferecer-se como voluntário para o exército.

A mãe deita as mãos à cabeça, não sabendo bem o que dera ao seu rebento, e o que fazer ao seu súbito apetite: se resolvia o caso com uma chapada, à antiga portuguesa, ou com uma descompostura quilométrica. Optou pela segunda hipótese, mas sem qualquer sucesso. O moço fez-se de surdo.

Logo que pôde dirigiu-se ao centro de recrutamento. Questionado pelo sargento de serviço sobre o que desejava, todo afoito disse ao que vinha:

-Quero oferecer-me como voluntário.

-Muito bem… - e o sargento encaminhou-se para a máquina de escrever, senta-se e dispara – nome e idade…

Em voz grossa, de peito inchado, despejou o nome, como se fosse um escultor a trabalhar a pedra.

O sargento martelou o nome e a máquina resistiu à investida de forma heróica.

Grafado o nome e a idade, voltou à carga:

-Profissão?

-Estudante do primeiro ano de medicina.

O sargento suspendeu a escrita. Sem sequer voltar a olhar para o mancebo, tirou o papel da máquina e disparou:

-Nós precisamos é de médicos. Vá acabar o curso e depois volte.

Sem esperar a resposta do mancebo, voltou-lhe as costas, não sem que antes lhe tenha desejado um bom-dia.

O país ganhou um bom cirurgião e, pelo que conheço da figura, livrou-se de um militar que vou ali e já venho. Safa!

Jorge C. Chora

2 comentários: