segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O "Estupor"

Entrou no jardim afivelando um sorriso cândido e carregando a máscara da simplicidade. A cabeça assemelhava-se a um cata-vento, tantos eram os cumprimentos dispensados à direita e à esquerda.

- Que encanto de homem… - comentou uma senhora ainda jovem.

- Falas de quem? - perguntaram-lhe as amigas – será do” Estupor”?

- Estão enganadas! Falo daquele homem que ali vai …

-Pois sim…é mesmo ele – reafirmaram.

Várias senhoras idosas, numa genuína aflição, rebuscavam os jardins, espreitando em todos os seus recantos, afastando as flores dos canteiros e chamando:

-Vivi…Vivi… onde te meteste …anda, vem… tenho aqui a tua capinha… - chamava a dona, em cuidados.

-Vivi…Vivi … - repetiam, como se fossem o eco, as amigas tremendo de emoção com o desaparecimento da pequena cadela.

-Quem viu a Vivizinha? Digam-me, por favor, se a viram… - pedia em pânico a velha senhora, privada da sua companhia de todas as horas.

Nisto surge um enorme cão, que mesmo sem rosnar infundia pavor, que olha sobranceiro para a multidão concentrada no jardim.

-Minhas senhoras, eu estava a evitar dar-lhes a notícia… - diz a medo o “Estupor.”

-Diga, não se acanhe… -incentivaram as senhoras.

-Está-me a custar dizer-lhes…

Depois de muito insistirem, o homem disse:

-Quando vinha a entrar, vi uma cena horrorosa…esse gigante que aqui está, engoliu um cãozinho…neste caso, uma cadelinha, como acabo de saber…

A dona da engolida, avançou de sombrinha em riste, direitinha ao monstro guloso, com uma sanha assassina.

Como um foguetão, saiu do canteiro a Vivi, que se colocou de permeio, defendendo o feríssimo gigante inocente, da fúria da sua dona.

E o grupo da jovem e das suas amigas, empunharam as suas respectivas sombrinhas e gritaram em uníssono:

-Anda cá “Estupor”…

Jorge C. Chora

2 comentários:

  1. Será possível simpatizar com um estupor?

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  2. o "Estupor" não deveria ter dito "comeu uma cadelinha" em vez de dizer "engoliu um cãozinho"?

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