Entrou no jardim afivelando um sorriso cândido e carregando a máscara da simplicidade. A cabeça assemelhava-se a um cata-vento, tantos eram os cumprimentos dispensados à direita e à esquerda.
- Que encanto de homem… - comentou uma senhora ainda jovem.
- Falas de quem? - perguntaram-lhe as amigas – será do” Estupor”?
- Estão enganadas! Falo daquele homem que ali vai …
-Pois sim…é mesmo ele – reafirmaram.
Várias senhoras idosas, numa genuína aflição, rebuscavam os jardins, espreitando em todos os seus recantos, afastando as flores dos canteiros e chamando:
-Vivi…Vivi… onde te meteste …anda, vem… tenho aqui a tua capinha… - chamava a dona, em cuidados.
-Vivi…Vivi … - repetiam, como se fossem o eco, as amigas tremendo de emoção com o desaparecimento da pequena cadela.
-Quem viu a Vivizinha? Digam-me, por favor, se a viram… - pedia em pânico a velha senhora, privada da sua companhia de todas as horas.
Nisto surge um enorme cão, que mesmo sem rosnar infundia pavor, que olha sobranceiro para a multidão concentrada no jardim.
-Minhas senhoras, eu estava a evitar dar-lhes a notícia… - diz a medo o “Estupor.”
-Diga, não se acanhe… -incentivaram as senhoras.
-Está-me a custar dizer-lhes…
Depois de muito insistirem, o homem disse:
-Quando vinha a entrar, vi uma cena horrorosa…esse gigante que aqui está, engoliu um cãozinho…neste caso, uma cadelinha, como acabo de saber…
A dona da engolida, avançou de sombrinha em riste, direitinha ao monstro guloso, com uma sanha assassina.
Como um foguetão, saiu do canteiro a Vivi, que se colocou de permeio, defendendo o feríssimo gigante inocente, da fúria da sua dona.
E o grupo da jovem e das suas amigas, empunharam as suas respectivas sombrinhas e gritaram em uníssono:
-Anda cá “Estupor”…
Jorge C. Chora
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
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Será possível simpatizar com um estupor?
ResponderEliminaro "Estupor" não deveria ter dito "comeu uma cadelinha" em vez de dizer "engoliu um cãozinho"?
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