domingo, 4 de março de 2012

A ranhosa

No meio da praça a menina estremecia. As lágrimas corriam-lhe por ambas as faces. Ao princípio ela ainda as tentou limpar mas depois desistiu. As pessoas pararam.

-O que te aconteceu Isabel?

E a menina redobrou as lágrimas e o choro. Uma aflição contagiante começou a apoderar-se dos que presenciavam o sofrimento da gaiata.

-O que tens Isabel? Diz-nos, por favor…

-Perdi o dinheiro que os meus pais me deram para o leite. Coloquei-o em cima da cadeira enquanto me assoava. Quando acabei já lá não estava! Eram dois euros. Agora não posso levar-lhes o leite e fiquei sem o dinheiro. A culpa é minha… como é que isto me aconteceu? Eles não vão confiar mais em mim!

E na praça, os avôs e as avós que viram confiscadas partes significativas das suas reformas, que percebiam perfeitamente a sensação de perda e de revolta,
exclamam comovidos:

-Ah como era bom que os grandes tivessem a responsabilidade das crianças!

Num canto da taberna, uma velha ébria retira os dois euros que escondera no bolso e ordena:

-Mais um copito de aguardente e isso depressa, que o dinheirinho não abunda …donde este veio não virá mais nenhum… - e vira-se para a criança que entretanto se aproximara e choramingava ao pé de si – desanda daqui ranhozita… o prejuízo duns é o lucro doutros…

Jorge C. chora

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