Com maus modos abriu a carteira. Retirou algum dinheiro com uma violência fora de vulgar. Aproximou-se da máquina de tabaco e introduziu uma, duas, três moedas e à quarta, quando atingiu o preço do maço pretendido, carregou no respectivo botão. A máquina não deu qualquer sinal. Repetiu o gesto e nada. Furioso, gritou em direcção ao balcão:
-A máquina está ligada?
-Estar está… ela talvez não goste das moedas que está a utilizar…não serão, quiçá, as que ela está habituada… - respondeu-lhe o proprietário do café.
-Está a insinuar, por acaso, que o meu dinheiro é falso? – abespinhou-se o utente.
-Longe disso. É só um momento – e levantou-se de modo calmo e em duas grandes e vagarosas passadas, cobriu o espaço que o separava da máquina.
Abriu-a e mostrou ao senhor as moedas que este tinha metido: três moedas de euro e uma de um dólar.
- Ainda não está habituada a dólares…
O cliente rendeu-se à evidência:
-Mil perdões…
Abriu de novo a carteira e retirou outra moeda, confirmando que era de um euro. Dirigiu-se, à máquina e, num ápice, colocou as moedas de rajada e carregou no botão. Não houve qualquer reacção.
-E agora o que é que se passa?
-É que ela não está habituada à brusquidão… -referiu quase a medo, com receio de ferir a susceptibilidade do estranho cliente.
-Homessa…
-Empresta-me as suas moedas?
-Claro.
O dono do estabelecimento aproximou-se, afagou-a e foi colocando com delicadeza as moedas de euro e falando com ela:
- A mademoiselle queira perdoar a forma um tanto rude como foi tratada…
E os mecanismos funcionaram às mil maravilhas, havendo quem tenha ouvido, de modo muito claro, a máquina responder:
-Merci mon chéri…
-É uma dengosa… -comentou o utente, despeitado com a atenção que a porcaria da máquina merecia por parte da clientela e do dono.
-Não ligues mademoiselle… é o ressentimento e a inveja a falarem. Coisa de humanos… - consolou-a o proprietário.
Jorge C . Chora
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
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