quarta-feira, 4 de abril de 2012

A fila prioritária

Fez as compras que tinha a fazer e dirigiu-se à caixa para as pagar. Quando se preparava para as colocar no pequeno balcão, ouviu atrás de si uma voz rouca:

-Peço-lhe perdão mas, se me deixasse passar à sua frente, ficava-lhe muito agradecida.

Olhou e viu uma idosa apoiada numa canadiana. Sorriu, ajudou-a a colocar os produtos e inclusive a colocá-los nos sacos. Mal acabara de praticar a sua acção cívica quando surgiu uma senhora grávida. Cedeu de imediato a passagem.

Sentiu-se ainda obrigada a ceder a primazia a mais duas pessoas: uma que transportava uma criança ao colo e a outra que trazia uma bebé no carrinho que dormia o sono dos justos.

Quando, por fim, julgou chegado o momento de ser atendida, apareceu-lhe, afogueada, uma jovem e elegante senhora que anunciou, plena de requebros
snobs:

-Estou grávida de um mês…

Ao ouvir esta declaração deu uma gargalhada sonora e disse:

-Minha querida, acabei mesmo há bocado de fazer amor e estou mesmo convicta, de que engravidei. Terá de esperar pela sua vez. Ah! Antes que me esqueça…Parabéns!

Nesse preciso momento a funcionária da caixa levanta-se, deixando ver uma barriga que denotava estar no fim do tempo e, muito aflita, interrompe o diálogo:

-Mil perdões mas tenho de ir já para a maternidade…

Jorge C. Chora

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