Entrou a bambolear-se, com um passo felino, cabelos soltos e um leve sorriso nos lábios. Luís surpreendeu-se por ser o único a observá-la. Ainda não percebera o que se passava, quando notou que muitas pessoas presentes na sala seguiam, como se estivessem hipnotizadas, um homem de meia estatura que entrara um bocado antes.
O que tinha o recém-chegado para atrair as atenções? perguntou-se. Talvez lhe tivesse escapado algum pormenor. Tornou a olhá-lo com maior atenção. Tinha um andar estranho: pernas abertas, braços pendentes, um balancear gingão e os olhos rodopiavam como que a procurar descobrir agulha em palheiro.
Acabou por se desinteressar da figura, continuando, no entanto, a verificar que o mesmo não acontecia com os outros que o seguiam de modo atento. Em definitivo, preferiu olhar para a senhora do andar felino. Quase de imediato, alguém lhe sussurrou um conselho:
-Não tire os olhos do Doze…
-Do Doze?
-Sim chamam-no assim por ter cumprido uma dúzia ou mais de sentenças…
Agradeceu mas não ligou ao aviso. A beldade impôs-se-lhe. À saída precisou de dinheiro e por muito que o procurasse, foi-lhe impossível encontrá-lo. Ao repetir pela enésima vez a busca infrutífera, o cavalheiro que o advertira antes, aproximou-se e murmurou-lhe:
-Tirou os olhos do Doze…Pois fique a saber que ele é o principal inimigo do fisco. Onde ele esteve o fisco recusa-se a ir, e o contrário também é verdadeiro. São inimigos figadais.
Jorge C. Chora
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