terça-feira, 17 de julho de 2012

O Doze e os seus inimigos figadais


Entrou a bambolear-se, com um passo felino, cabelos soltos e um leve sorriso nos lábios. Luís surpreendeu-se por ser o único a observá-la. Ainda não percebera o que se passava, quando notou que muitas pessoas presentes na sala seguiam, como se estivessem hipnotizadas, um homem de meia estatura que entrara um bocado antes.

O que tinha o recém-chegado para atrair as atenções? perguntou-se. Talvez lhe tivesse escapado algum pormenor. Tornou a olhá-lo com maior atenção. Tinha um andar estranho: pernas abertas, braços pendentes, um balancear gingão e os olhos rodopiavam como que a procurar descobrir agulha em palheiro.

Acabou por se desinteressar da figura, continuando, no entanto, a verificar que o mesmo não acontecia com os outros que o seguiam de modo atento. Em definitivo, preferiu olhar para a senhora do andar felino. Quase de imediato, alguém lhe sussurrou um conselho:

-Não tire os olhos do Doze…

-Do Doze?

-Sim chamam-no assim por ter cumprido uma dúzia ou mais de sentenças…

Agradeceu mas não ligou ao aviso. A beldade impôs-se-lhe. À saída precisou de dinheiro e por muito que o procurasse, foi-lhe impossível encontrá-lo. Ao repetir pela enésima vez a busca infrutífera, o cavalheiro que o advertira antes, aproximou-se e murmurou-lhe:

-Tirou os olhos do Doze…Pois fique a saber que ele é o principal inimigo do fisco. Onde ele esteve o fisco recusa-se a ir, e o contrário também é verdadeiro. São inimigos figadais.

Jorge C. Chora

Sem comentários:

Enviar um comentário