quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A prova do sacristão

Na aldeia pouco havia que fazer após o trabalho. Os homens reuniam-se na taberna, pagavam e bebiam rodadas. Todos participavam e, por isso, eram inúmeros os copos que bebiam, quer lhes apetecesse ou não, pois ficavam mal vistos e arredados do convívio aqueles que se mostrassem renitentes.

Um dia, o sacristão, que fazia parte da roda e estava farto de beber, resolveu moderar o consumo dos discípulos de Baco. Propôs que só podiam continuar a beber os que estivessem sóbrios depois do 4º ou 5º copo de vinho.

- Estamos todos bem! –berraram alguns.

-Veremos. Quem conseguir subir ao púlpito da igreja velha, sem se apoiar, estará em condições de beber mais do que quatro copos … - sugeriu o sacristão.

Em silêncio, dirigiram-se ao templo. Em fila indiana, alumiados pelos isqueiros, esperaram a respectiva vez de subirem. Os degraus de acesso ao púlpito eram sete, grandes e irregulares, enroscados a uma das colunas da igreja, sem guarda nem corrimão, e muito distantes das paredes.

Metade dos presentes apoiou-se no pilar e foram impedidos de prosseguir a prova. A outra metade tombou da escada no quinto ou no sexto degrau.

-Estamos conversados… - concluiu o sacristão.

-Mas como diabo te lembraste disto? - interrogaram, furiosos, os excluídos.

-Isso agora… é segredo… -defendeu-se o sacristão.

-Mau…ou te confessas ou a prova fica sem efeito! – reclamaram os presentes.

-Porque é que, quer eu quer o senhor padre, andamos, de vez em quando, de braço ao peito?

Jorge C. Chora

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