segunda-feira, 1 de outubro de 2012

As bruxas de Benfica

Entrou e segurou a porta, pois ouviu atrás de si um tiquetaque de saltos altos. Não se enganou. Uma dama de nariz empinado e passo curto, de pequena estatura, sem sequer olhar para si, penetrou na igreja sem o cumprimentar e muito menos lhe agradecer, seguindo em frente, saracoteando-se.

Ainda com dificuldade em encaixar a situação, viu entrar de rajada mais duas senhoras que se comportaram do mesmíssimo modo. Perdeu a paciência e enquanto fechava a porta com uma certa força disse:

-É de mais!

Nesse momento elas gritaram:

-Ai as nossas caudas…que dor…

-Mil perdões…não imaginava….- balbuciou – e olhava a ver se via as caudas.

- Cego é quem não quer ver…toma que é para aprenderes… - e enquanto isto diziam, sopravam labaredas dirigidas aos seus pés.

Saltitando, ora para a esquerda ora para a direita, o infeliz conseguiu evitar ser assado. Cansado de tanto se esquivar, quase a sucumbir, ouviu um pequeno estrondo por cima da sua cabeça e viu três vassouras a voar. Agarrou-se a uma delas e conseguiu sair do alcance das malvadas.

Nesse preciso momento, o padre deu início à santa missa, benzendo-se e fazendo o sinal da cruz. Acto contínuo, apagaram-se as chamas e quando os fiéis disseram ámen, logo as três damas regressaram à sua real forma e natureza. Transformaram-se em três pequenas cabras que reclamavam:

- meeée´…méeeeee´

À porta, um pastor com um enorme cajado e um só corno, vermelho e retorcido, repreendeu-as com severidade:

-Quantas vezes é preciso dizer-vos que o vosso lugar não é na igreja! Não há palha e os bodes estão cá fora!

-Méee…mééé… -reclamaram furiosas, descendo as escadarias numa correria, batendo os cascos com uma tal violência, que as faíscas produzidas dariam para alumiar a noite mais negra.

Valha-nos Nossa Senhora do Amparo!

Jorge C. Chora

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