Comia feijoadas dia sim dia sim. Era o que a mulher lhe
trazia do restaurante onde trabalhava, por especial favor do magnânimo gerente.
Em troca prestava pequenos serviços. Varria, servia à mesa, quando faltava
alguém, e fazia recados.
Em tempo de crise, escassearam os clientes. Lembrou-se o
gerente das habilidades do Tónio. Bastava-lhe levantar a perna e
desencadeava-se um verdadeiro festival sonoro. Reforçou-lhe a dose de feijão
diário e o Tónio passou a dinamizar, no átrio traseiro do restaurante, concursos
sonoros. As apostas eram feitas em uísques: quem perdia pagava rodadas a todos
os presentes. O negócio prosperou.
O tempo foi passando e
Tónio, farto de feijoadas, mas sem ter outra opção, foi comendo sem
qualquer queixa o que o magnânimo gerente lhe propiciava na gamela diária.
Os concursos passaram a acontecer também à tarde e os
proventos económicos foram crescendo: vendia dúzias de garrafas de uísque, ao
copo, diariamente.
Um belo dia Tónio deu uma bufa tão grande, tão poderosa, que
há quem diga que fez ricochete na parede e derrubou o gerente. O certo ,é que
ele caiu ao chão, quiçá por ter tropeçado.
Os espectadores bateram palmas. Tónio aproveitou para
disparar uma rajada de salvas de canhão e obrigar o gerente a lançar-se ao chão
uma série de vezes, sob fortes aplausos da assistência.
A partir desse dia, Tónio teve direito, para além do feijão,
a um copo de vinho e a uma maçã às refeições, caso não repetisse a brincadeira
com o gerente.
PS:Todos somos Tónios.
Jorge C. Chora
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