sexta-feira, 1 de março de 2013

A gamela do Tónio


                                               
Comia feijoadas dia sim dia sim. Era o que a mulher lhe trazia do restaurante onde trabalhava, por especial favor do magnânimo gerente. Em troca prestava pequenos serviços. Varria, servia à mesa, quando faltava alguém, e fazia recados.

Em tempo de crise, escassearam os clientes. Lembrou-se o gerente das habilidades do Tónio. Bastava-lhe levantar a perna e desencadeava-se um verdadeiro festival sonoro. Reforçou-lhe a dose de feijão diário e o Tónio passou a dinamizar, no átrio traseiro do restaurante, concursos sonoros. As apostas eram feitas em uísques: quem perdia pagava rodadas a todos os presentes. O negócio prosperou.

O tempo foi passando e  Tónio, farto de feijoadas, mas sem ter outra opção, foi comendo sem qualquer queixa o que o magnânimo gerente lhe propiciava na gamela diária.

Os concursos passaram a acontecer também à tarde e os proventos económicos foram crescendo: vendia dúzias de garrafas de uísque, ao copo, diariamente.

Um belo dia Tónio deu uma bufa tão grande, tão poderosa, que há quem diga que fez ricochete na parede e derrubou o gerente. O certo ,é que ele caiu ao chão, quiçá por ter tropeçado.

Os espectadores bateram palmas. Tónio aproveitou para disparar uma rajada de salvas de canhão e obrigar o gerente a lançar-se ao chão uma série de vezes, sob fortes aplausos da assistência.

A partir desse dia, Tónio teve direito, para além do feijão, a um copo de vinho e a uma maçã às refeições, caso não repetisse a brincadeira com o gerente.

PS:Todos somos Tónios.
Jorge C. Chora

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