O coqueiro via-se ao longe, de muito longe. Ele anunciava a
ilha, era o seu símbolo. Os mais velhos contavam e recontavam a lenda. No
princípio do mundo, logo que as árvores apareceram, aquele coqueiro estava no
continente. Depois, o pedaço de terra em que ele crescera, separou-se e viajou
até ao meio do mar, transformando-se na ilha.
O tempo foi passando e foram surgindo outros coqueiros, familiares
do mais velho. Não resistiram às tempestades, às violentas ondas que invadiram
a terra, furiosas e com ímpetos destrutivos. Os ciclones fizeram o resto:
dizimaram os poucos que tinham nascido.
O único sobrevivente foi o velho coqueiro. A fama dos seus
cocos chegara a locais muito distantes. Habitantes desses mundos, chegavam à
ilha atraídos pelos benefícios inultrapassáveis do consumo dos milagrosos
frutos.
A água de coco, um autêntico néctar, era bebida em pequenos
cálices. Eram tantas as virtudes que lhe atribuíam, que é difícil enumerá-las.
Uma delas, talvez a mais cobiçada, é que ela rejuvenescia quem a bebesse. Filas
intermináveis de idosos, esperavam dias e dias pela sua vez. Mal bebiam
sentiam-se outros. Abandonavam as bengalas, que eram guardadas num armazém que foram
obrigados a construir para o efeito.
Uma, entre muitas das enormes filas que se constituíam, era
de jovens mulheres. Tinham em comum, o desejo de terem filhos que fossem sãos e
fortes. A fertilidade era outra das virtudes inerentes à água. Outra fila, era formada
por jovens que procuravam obter uma invejável virilidade.
O coco ralado era desejado para a culinária. O seu sabor,
garantiam os utilizadores, não tinha paralelo em relação a qualquer outro.
Bolos, sobremesas e pratos variados eram um sucesso.
Os tapetes e capachos feitos a partir da palha do coco, eram
dos mais belos, ornamentavam as casas e traziam a sorte aos seus proprietários.
As escovas utilizadas para puxar o lustro, faziam-no de tal modo que as pessoas
não necessitavam de espelhos. As vassouras então, eram cobiçadas porque
garantiam uma limpeza ímpar.
Um belo dia chegou ao local um homem muito rico que ofereceu
pelo coqueiro uma fortuna. O jovem que estava a governar a ilha, convenceu os
seus habitantes a vendê-lo. Alegava que o dinheiro fazia falta para construir
um hotel de luxo. Defendeu ainda que todas aquelas actividades não faziam
sentido nenhum, que deviam ser proibidas, por falta de higiene, por serem
rudimentares e não se encontrarem ao nível da ilha.
O coqueiro foi transplantado para um arquipélago
relativamente próximo. Morreu um ano depois.
O hotel nunca foi construído. Os visitantes deixaram de vir
e a terra acabou, a pouco e pouco, por ficar despovoada porque os seus
habitantes ficaram sem meios de subsistência.
O dirigente que vendera o coqueiro, vendeu a ilha a um
poderoso país, cujo primeiro acto foi plantar um coqueiro em tudo idêntico ao
antigo.
Jorge C. Chora
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