A vassoura era o seu instrumento de trabalho .Usava-a com
garbo e raramente parava de trabalhar, com excepção dos breves e indispensáveis
momentos de descanso. Retomava a sua actividade com a força e a determinação
que a caracterizavam. Não ficava uma folha caída no chão por varrer, um simples
bilhete de transporte por recolher. Voltava atrás quantas vezes fossem
necessárias. Mariana, assim se chamava e chama a trabalhadora, usava dois
chapéus de palha ao mesmo tempo. Um inclinado para a frente que lhe tapava a
testa e o outro, encaixado no primeiro, voltado para trás, trazendo-lhe
protecção para as inclemências do tempo.
Quando lhe atribuíam uma zona de trabalho diferente, mesmo
que fosse por pouco tempo, a sujidade acumulava-se no bairro que ela deixara. As
folhas dos plátanos, no Inverno, depois de uma ventania ou de uma chuvada mais
intensa pejavam as ruas, tornando-as inseguras e feias. A agravar a situação,
as folhas dos panfletos publicitários, que as pessoas teimam em deitar para o
chão misturavam-se com os jornais que depois de lidos tinham o mesmo destino.
Quando a senhora aparecia, desencadeava uma autêntica guerra
às folhas, que esvoaçavam na ponta da sua vassoura, até formarem montes que ela
recolhia e ia depositando no lixo, sem tréguas e sem sinais de esmorecimento.
D. Mariana, a mulher dos dois chapéus, era o símbolo da
limpeza, do trabalho árduo e de empenho na profissão. Naquele tempo não havia
“sopradores”,carros “vassouras” e equipas conjugadas no combate à sujidade que
hoje, felizmente, há. Em contrapartida havia a mulher dos dois chapéus, a D. Mariana,
que eu vi já há alguns anos, bem perto da porta da Câmara Municipal da Amadora,
instituição que ela serviu, com brio, quando estava no activo.
Vivam todas as Marianas deste país!
Jorge C. Chora
Sem comentários:
Enviar um comentário