domingo, 17 de novembro de 2013

A mulher dos dois chapéus

                                                                                                                                 

A vassoura era o seu instrumento de trabalho .Usava-a com garbo e raramente parava de trabalhar, com excepção dos breves e indispensáveis momentos de descanso. Retomava a sua actividade com a força e a determinação que a caracterizavam. Não ficava uma folha caída no chão por varrer, um simples bilhete de transporte por recolher. Voltava atrás quantas vezes fossem necessárias. Mariana, assim se chamava e chama a trabalhadora, usava dois chapéus de palha ao mesmo tempo. Um inclinado para a frente que lhe tapava a testa e o outro, encaixado no primeiro, voltado para trás, trazendo-lhe protecção para as inclemências do tempo.

Quando lhe atribuíam uma zona de trabalho diferente, mesmo que fosse por pouco tempo, a sujidade acumulava-se no bairro que ela deixara. As folhas dos plátanos, no Inverno, depois de uma ventania ou de uma chuvada mais intensa pejavam as ruas, tornando-as inseguras e feias. A agravar a situação, as folhas dos panfletos publicitários, que as pessoas teimam em deitar para o chão misturavam-se com os jornais que depois de lidos tinham o mesmo destino.

Quando a senhora aparecia, desencadeava uma autêntica guerra às folhas, que esvoaçavam na ponta da sua vassoura, até formarem montes que ela recolhia e ia depositando no lixo, sem tréguas e sem sinais de esmorecimento.

D. Mariana, a mulher dos dois chapéus, era o símbolo da limpeza, do trabalho árduo e de empenho na profissão. Naquele tempo não havia “sopradores”,carros “vassouras” e equipas conjugadas no combate à sujidade que hoje, felizmente, há. Em contrapartida havia a mulher dos dois chapéus, a D. Mariana, que eu vi já há alguns anos, bem perto da porta da Câmara Municipal da Amadora, instituição que ela serviu, com brio, quando estava no activo.

Vivam todas as Marianas deste país!


Jorge C. Chora

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