Os avós passaram o
tempo a beberem este mundo e o outro. Os pais arrastaram-se pela vida fora. Os
netos, fazendo jus aos antepassados, herdaram-lhes a vagabundagem e a bebida.
Para sustentarem os vícios que lhes foram deixados,
especializaram-se em enganar os conterrâneos.
Os olhos dos netos esbugalharam-se, quando viram um casal à
sua frente encontrar uma carteira no chão. Depressa gizaram o plano para se
apropriarem do seu conteúdo.
-Foi por estas bandas que perdi a carteira… -disse a neta,
arregalando os olhos.
O casal abriu a carteira, olhou para uns documentos que ela
continha e perguntou:
-Como é que a senhora se chama?
Revirou os olhos e pretendeu evitar a resposta:
-Ainda não fui tratar do cartão de cidadão…
- Mas aqui há um documento de identificação…. - respondeu-lhes o casal que tinha encontrado a
carteira.
-Não me lembro de o ter deixado na carteira… - tentou
esquivar-se a candidata à posse.
-Pois assim não é possível devolver-lha… - concluíram os
achadores - até porque ela pertence a estrangeiros – e continuaram a caminhar,
dirigindo-se a uma esquadra da polícia que se encontrava na esquina.
Antes de conseguirem chegar à delegação policial, os netos
interpelaram de novo o casal que encontrara a carteira:
-Somos descendentes de franceses….é muito provável que os
documentos estejam em nome dos nosso antepassados…,
-Nem franceses nem ingleses…ela pertence a… - E não tiveram
tempo de acabar a frase, pois um sem abrigo apoderou-se dela e enquanto fugia
gritou:
-Ela não é vossa nem é minha…ela é de quem a apanhar…
E na correria desenfreada, quando olhou para trás para
controlar os seus perseguidores, chocou com um grupo de amigos do alheio que
lhe ficou com a carteira e lhe disse:
- Faz de conta que somos a troika…vai-te e não digas a
ninguém…
Jorge C. Chora
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