Durante anos chegou à mesma hora
e sentou-se no mesmo lugar. Permanecia muda e queda, olhando para a porta.
Observava quem entrava.
Um dia trouxe um bloco de notas e
passou a escrever, enquanto permanecia no local. Dedicava uns segundos de
atenção a quem transpunha a porta, para logo retomar a escrita.
Passaram-se anos sem alterar a sua rotina diária.
O empregado tentou, por diversas vezes, ler o que ela
escrevia. Nunca conseguiu. Logo que ele se aproximava ela tapava a folha.
Ao fim de uma década conseguiu espreitar e verificou que não
havia sequer uma linha escrita. Não se conteve:
-Afinal a senhora não escreveu nada!
A senhora esboçou um sorriso, o primeiro ao fim de todos
aqueles anos, e respondeu-lhe num tom de voz muito baixo e suave:
- Ainda não consegui frases suficientemente belas para
passar a escrito…são declarações de amor…para um destinatário especial…
O funcionário piscou os olhos. Não percebeu patavina do que
ouviu, mas não desistiu:
-E esse destinatário existe?
-Ainda não, espero que um dia ele transponha aquela porta…
-O amor não necessita de palavras… - concluiu o empregado.
A senhora suspendeu a respiração, fixou o olhar embevecido
no senhor e declarou:
-Como nunca reparei em si! É a minha alma gémea…
Ninguém mais viu ou soube algo do funcionário. Há quem diga
que se evaporou.
A senhora é que jamais desistiu de o ver. Todos os dias lá
continua a ir, mas não leva o bloco. Na sua cabeça ecoa a frase do seu amado:”O
amor não necessita de palavras”.
Jorge C. Chora
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