O idoso perfilava-se como um garboso soldado imperial,
frente ao prédio em construção. Ficava imóvel durante horas, observando as
movimentações escada acima, escada abaixo, do exército de trabalhadores.
Ao fim do quarto dia, a sua presença começou a incomodar o
dono da obra. O grau de imobilismo era tal que chegou a interrogar-se se era possível
o homem ter morrido de pé, sem ser em sentido figurado. Não haveria nada que
perturbasse o mirone?
Mal acabara de se interrogar quando o cão que guardava a
obra, se esgueirou em direcção à sentinela. Aproximou-se, cheirou-o, levantou a
perna e urinou-lhe as botas. Nem ai nem ui. Continuou imperturbável.
No dia seguinte, à mesma hora, o senhor lá estava. A única
diferença era o facto de trazer calçadas umas grandes galochas.
Jorge C. Chora
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