quarta-feira, 25 de março de 2015

AO SERVIÇO DO DONO

O idoso perfilava-se como um garboso soldado imperial, frente ao prédio em construção. Ficava imóvel durante horas, observando as movimentações escada acima, escada abaixo, do exército de trabalhadores.

Ao fim do quarto dia, a sua presença começou a incomodar o dono da obra. O grau de imobilismo era tal que chegou a interrogar-se se era possível o homem ter morrido de pé, sem ser em sentido figurado. Não haveria nada que perturbasse o mirone?

Mal acabara de se interrogar quando o cão que guardava a obra, se esgueirou em direcção à sentinela. Aproximou-se, cheirou-o, levantou a perna e urinou-lhe as botas. Nem ai nem ui. Continuou imperturbável.

No dia seguinte, à mesma hora, o senhor lá estava. A única diferença era o facto de trazer calçadas umas grandes galochas.


Jorge C. Chora

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