quinta-feira, 5 de março de 2015

O Zé do rabo pelado

                                                                                                                        
O Zé desceu as escadas com esforço notório. Colocava os pés, degrau após degrau, sem falhar nenhum. Percebia-se que se encontrava com dores. Outro qualquer ver-se-ia em palpos de aranha se lhe perguntassem a que se deviam as dores. Ele não tinha desses problemas. Inventaria uma patranha, a primeira de que se lembrasse. Com ou sem invenção, o certo é que o rabo lhe doía a bom doer.

 Acabara de arrancar dois pêlos do sim-senhor e ia impingi-los como se fossem da púbis da Dádá.

Há quatro meses que engendrara o namoro secreto entre ele e a recém-chegada. Para o provar exibia aos amigos os pêlos atribuindo-os à colega. Ela era jovem, loura e bem-parecida. Sendo os cabelos anais do Zé mais pretos do que um tição, tinha tido alguma dificuldade em explicar como é que a loura os tinha daquela cor.

- Sabem…eles inicialmente eram louros mas com a acção foram escurecendo… - confidenciava, com a mão em concha, voz sumida e um ar de conquistador irresistível.

Claro que Dádá nem sonhava o que dela se dizia na pequena vila. O pior para as partes sensíveis do Zé, foi quando os amigos enfiaram na cabeça que os cabelinhos da Dádá eram essenciais para que eles tivessem sorte com as raparigas da terra. Começaram a pedir-lhe e depois a exigirem-lhe cada vez mais as amostras milagrosas. No início não se fez rogado e a ganância cimentou o negócio. Agora não podia negar-se. O resultado era evidente: por aquele andar em breve deixaria de poder caminhar.

Quando teve, de uma só vez, uma encomenda de dez, fez as contas e achou por bem não perder a fortuna envolvida. Foi-se à mula da casa e cortou-lhe, da cauda, os pêlos encomendados.
Os compradores acharam estranho o produto comprado. Reclamaram da dureza dos ditos, ao que o vendedor, pacientemente, explicou:

-Quanto mais lhos arranco mais endurecem…

Inquirido sobre o facto de lhes parecer que os primeiros tinham um certo cheiro e estes outros, encheu-se, de novo, de uma paciência a toda a prova:

-Ela mudou de perfume… tem medo de que eu me sature…

Um belo dia Dádá veio a saber das histórias do “menino” e deu-lhe tantas, mas tantas bofetadas que ele durante duas semanas ficou de cara inchada e vermelha ganhando, no aspecto, ao mais bêbado da localidade. Por cumplicidade e por terem acreditado no Zé, todos os companheiros apanharam. Perante a sociedade local o grupo ficou a ser chamado ” bolachas da Dádá.”

O Zé, a partir daí, ficou conhecido como o “Rabo Pelado” e ainda hoje ninguém se lembra de ter tido outro nome. Uma vantagem tirou do arranque dos pêlos anais: sempre que o tempo ameaçava chuva, ele sabia, antecipadamente, se ela cairia ou não: se lhe doesse muito, chovia.

Devido a essa característica, acabou por arranjar um emprego de porteiro num estabelecimento de diversão nocturna. Mal chovia ele tinha sempre à mão um enorme guarda-chuva, para acompanhar a clientela às respectivas viaturas. Até à data nenhum cliente se molhou.

Quantos Zés de rabos pelados conhecem V.Exas ?


Jorge C. Chora

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