sexta-feira, 17 de abril de 2015

A CAIXA DE CHOCOLATES

                                                                                                             
Nunca recebera nada de ninguém, excepto da sua própria família. Surpreendeu-se quando o vizinho lhe trouxe uma grande caixa de chocolates. Primeiro recusou. Perante a insistência, não teve outro remédio senão aceitar, mas quis saber o motivo da oferta:

-A que se deve o presente?

-Olhe…eu não gosto de chocolate…preciso de saber se ele é bom ou não, para aproveitar uma promoção para os meus filhos. É uma surpresa…

Agradeceu a oferta e comprometeu-se a dar-lhe, no dia seguinte, o seu parecer. Só estranhou o facto do outro não ter filhos e ter falado neles.

Na manhã seguinte, ainda não eram 9h, quando lhe bateram à porta. Era o vizinho que lhe ofertara os chocolates.

-Então os chocolates estavam bons? Desculpe…queria perguntar se eram bons!

O homem que os tinha provado e passara a noite com dores de barriga e na casa de banho, percebeu que tinha servido de cobaia. Julgara que a indisposição se devera ao marisco que comera. Agora tinha a certeza de que o marisco não tivera culpa nenhuma. Sorriu ao vizinho e disse-lhe:

-Pode comê-los à vontade. Estão óptimos e são muito saborosos.

Um dia depois, no café, contou a dois moradores o que se passara com os chocolates que o vizinho lhe dera .Os moradores riram-se e contaram-lhe que ele tinha por hábito fazer isso quando não sabia se os produtos estavam bons. Dava-os a provar a alguém e só depois de se certificar que ninguém morrera e estava tudo bem, é que os consumia.

Uma hora depois da conversa, entrou o senhor das ofertas. Vinha esbranquiçado, enfraquecido, mal podendo andar.

-O que se passa consigo? - perguntaram-lhe os presentes.

Virou-se para a cobaia, muitíssimo aborrecido, e murmurou:

-O senhor tem intestinos de aço! Comi as outras caixas que tinha em casa e só não morri por acaso! Nunca mais lhe dou a provar seja o que for!

-Tem graça, não senti nada… mas mesmo nada! - respondeu-lhe - contendo o riso e as dores de barriga que o piolhoso lhe pregara.

 Jorge C. Chora




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