Nunca recebera nada de ninguém, excepto da sua própria
família. Surpreendeu-se quando o vizinho lhe trouxe uma grande caixa de
chocolates. Primeiro recusou. Perante a insistência, não teve outro remédio
senão aceitar, mas quis saber o motivo da oferta:
-A que se deve o presente?
-Olhe…eu não gosto de chocolate…preciso de saber se ele é
bom ou não, para aproveitar uma promoção para os meus filhos. É uma surpresa…
Agradeceu a oferta e comprometeu-se a dar-lhe, no dia
seguinte, o seu parecer. Só estranhou o facto do outro não ter filhos e ter
falado neles.
Na manhã seguinte, ainda não eram 9h, quando lhe bateram à
porta. Era o vizinho que lhe ofertara os chocolates.
-Então os chocolates estavam bons? Desculpe…queria perguntar
se eram bons!
O homem que os tinha provado e passara a noite com dores de
barriga e na casa de banho, percebeu que tinha servido de cobaia. Julgara que a
indisposição se devera ao marisco que comera. Agora tinha a certeza de que o
marisco não tivera culpa nenhuma. Sorriu ao vizinho e disse-lhe:
-Pode comê-los à vontade. Estão óptimos e são muito
saborosos.
Um dia depois, no café, contou a dois moradores o que se
passara com os chocolates que o vizinho lhe dera .Os moradores riram-se e
contaram-lhe que ele tinha por hábito fazer isso quando não sabia se os
produtos estavam bons. Dava-os a provar a alguém e só depois de se certificar
que ninguém morrera e estava tudo bem, é que os consumia.
Uma hora depois da conversa, entrou o senhor das ofertas.
Vinha esbranquiçado, enfraquecido, mal podendo andar.
-O que se passa consigo? - perguntaram-lhe os presentes.
Virou-se para a cobaia, muitíssimo aborrecido, e murmurou:
-O senhor tem intestinos de aço! Comi as outras caixas que
tinha em casa e só não morri por acaso! Nunca mais lhe dou a provar seja o que
for!
-Tem graça, não senti nada… mas mesmo nada! - respondeu-lhe
- contendo o riso e as dores de barriga que o piolhoso lhe pregara.
Jorge C. Chora
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