terça-feira, 14 de abril de 2015

OS SEGREDOS INCONFESSÁVEIS DE "SUA ALTEZA"

                                                                                       

Felisbelo, conhecido como”Sua Alteza” tinha segredos inconfessáveis. Havia quem garantisse que eram idênticos aos de Berto, “Sua Majestade”, como era chamado seu pai. Que fique desde já esclarecido que os títulos nobiliárquicos não se referem a reis e príncipes de casas reais, mas tão só a alcunhas dadas a ricos com tiques que o imaginário colectivo atribui comummente às ditas casas: vícios caros e falta de vergonha hereditária.

“Sua Alteza”, era apaixonado por jogos aromáticos e gastronomia.” Brincadeiras aromatizadas” era como “Sua Alteza” designava os seus jogos preferidos. Em que consistiam os referidos jogos? Depois de muito coscuvilhar, descobriram os amigos, através de conhecidas, que tinham sido convidadas a participar nesses jogos, de que se tratavam de brincadeiras eróticas.

Com a curiosidade aguçada, bem se esforçaram por esmiuçar em que consistiam, de facto, semelhantes jogos. Assaz surpresos ficaram, quando todas elas disseram que tinham assinado termos de confidencialidade que as impediam de revelar o que se passara na mansão.

Um belo dia, alguém que se dava muito bem com uma das convidadas, conseguiu apurar que ela fora chamada por um amigo de Felisbelo para uma lauta refeição, antes do encontro com o dito. O único pedido que lhe tinha sido feito era que memorizasse, de modo cuidado, tudo aquilo que fosse comendo. O seu anfitrião teria ocasião de adivinhar, tintim por tintim, o que comera.

Adquirida esta informação, nada mais transpirou. Os jogos continuaram no mais profundo segredo.
Marinela, a da boa-vai-ela, alérgica ao bom comportamento e amante de festas, chamou a atenção ao folgazão, que logo encarregou o usual intermediário de a convidar. Aceitou o dinheiro da refeição mas comeu o que era usual, guardando a grossa maquia que recebera.

Quando o anfitrião a despiu, anunciou-lhe que iria descobrir, sem ela lhe dizer, tudo o que ela comera ao jantar. Colocou o seu nariz empinado entre as suas nádegas e apertou-lhe o ventre. Marinela fez o que todas as outras costumavam fazer: descuidou-se.
 Alteza deu um grito pavoroso:

-Coitado de mim que me matam! O que comeste sereia ?

E Marinela, assustada, confessou:

-O que o povo come! Couves e peixe ressequido!

Conta-se que a “Alteza” ficou com o olfacto de tal maneira ofendido que nunca mais ninguém ouviu falar nos seus jogos aromatizados.

Caros leitores, caso se cruzem com alguém, cuja cara e nariz empinado, revele que tudo lhe parece cheirar mal, coloque a hipótese de se poder tratar dum discípulo de “Sua Alteza” ou, quiçá, de” Sua Alteza” em pessoa.

Jorge C. Chora




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